O designer como grunho
O design em Portugal envelhece. Já há muito tempo que não ouço ninguém com a lenga lenga do «é preciso trazer o design para Portugal». Seria absurdo. Aparecem sempre os que dizem que é preciso trazer o design «a sério», o que significa apenas «o deles».
O design envelhece e às vezes parece que não aprende muita coisa. A proporção de mulheres a estudar design é consistentemente maior desde há anos. Tenho aulas onde praticamente só vão mulheres. Mas mesmo assim ainda se apanha gente a dizer que o design é uma coisa de homens. E diz-se que isso é por causa dos trabalho que os filhos dão ou da incapacidade para praticar a coisa à homem – “à patrão”, queira isso dizer “à bruta” ou “com charme”, não é muito fácil de distinguir. É um meio que não leva mulheres a sério (ou qualquer pessoa que não jogue por essas regras). Não é apenas o modo de trabalhar à antiga, porque já anda por aí uma versão 2.0, igualmente troglodita, alimentada a politicamente incorrecto e a “liberdade de expressão” – para dizer alarvidades em nome da informalidade.
Tudo isto não é só conversa, como é evidente, mas é o software da coisa. Daí que seja útil ter uma formação que inclua uma história que seja crítica e não apenas transmitir o património e as lendas da profissão. E uma crítica que inclua feminismo, estudos culturais, política, etc. Porém, é comum achar-se que os alunos ainda não têm maturidade para isto (mesmo no ensino superior). Pela minha parte, se têm idade para ouvir ou fazer comentários sexistas, se têm idade para estagiar, têm mais do que idade para perceber o que isso implica.