O dia em que o Basqueirart criou um portal para outra dimensão no Museu de Lamas
A terceira edição do Basqueiral decorreu em Santa Maria de Lamas nos dias 14 e 15 de junho. Mais do que um festival de música, o Basqueiral é uma celebração das artes. O Basqueirart é uma peça central neste puzzle; este ano, esteve novamente a cargo da Companhia Persona. Esta curadoria conta com a colaboração do Museu e dos alunos das escolas do concelho. Lígia Lebreiro e Simão Valinho são os fundadores e diretores artísticos da Companhia – presentes também no Festival em nome dos Shared Files. Já conheciam os organizadores, foram à primeira edição do festival e, entretanto, foram convidados para colaborar no segundo ano de Basqueiral.
Uns minutos antes das primeiras notas musicais soarem no segundo dia de festa em Lamas, conversámos com Lígia Lebreiro, que nos explicou em detalhe o trabalho do Basqueirart e nos fez uma visita guiada pelo Museu de Santa Maria de Lamas. Lígia conta que 2018 foi o primeiro ano em que o Basqueiral funcionou neste recinto e no Museu. A Companhia Persona foi convidada a intervir no espaço, de forma a tirar o foco da música, a envolver a comunidade e a alongar o Festival a outras linguagens artísticas. Assim, esta intervenção tem uma função tripla: decoração, valorização do espaço e atração de novos públicos.
O Basqueirart está por todo o lado nestes dois dias: num mural participativo, do lado de fora da entrada Este; em instalações espalhadas por todo o lado – quer sejam os cisnes gigantes com LEDs vermelhas que flutuam nos pequenos lagos, quer sejam os origamis infinitos; no trabalho de Sofia Neto, ilustradora convidada para fazer uma banda desenhada do Festival; no Braindance, uma performance com arte digital e dança contemporânea que acontece em quatro momentos; na intervenção massiva no Museu.
O resultado final da curadoria artística no Museu de Santa Maria de Lamas é o nascer de uma outra dimensão. Ao passar a porta da entrada, o visitante é transportado para um outro local, intemporal e com espaço indefinido, porque parece inconcebível a ideia de ainda se estar em Lamas. O expoente máximo desta experiência é – considerando a visita ao Museu como um percurso pelas várias salas – o caminho guiado pelos origamis com luz negra, que assinalam a chegada à Sala da Cortiça.
Lígia explica que a Companhia Persona acha interessante o contraste entre o muito antigo – o barroco – e as linguagens mais contemporâneas, como a arte digital. Esta Sala da Cortiça é um bom exemplo disso. Estando fechada ao público, é aberta especialmente para o Basqueiral; depois do desabamento que destruiu a maior parte do interior, a ideia foi devolvê-la ao público e mostrar o seu potencial para novos usos. A decoração é feita com barcos de papel, o Bom Barqueiro, um andor de cortiça de D. Pedro que pertencia à antiga Sala, e videomapping do Comendador, que conta a história do museu.
A par da visita guiada por Lígia – intercalada com o soundcheck de Acid Acid, músico que atuou no Palco Igreja Alternativa numa das salas do museu – visitámos o Museu umas horas depois. À noite, o Museu transforma-se, ganha uma magia única e torna a visita numa experiência surreal. Estando-se sentado na Sala da Cortiça, por entre a música, os origamis e as luzes, perde-se completamente a noção de onde se está. É mesmo um portal para uma outra dimensão, um espaço suspenso por entre o tempo.