O mundo da música está mais pobre. Morreu Philippe Zdar
Já Tó Pereira e Rui da Silva (Underground Sound Of Lisbon) haviam gritado “Get up” aos sete ventos, e à medida que o segundo milénio chegava ao fim, o mundo ia sabendo que alguma coisa se passava por terras gaulesas. Desde os Saint German aos Daft Punk, passando pelos Cassius e os belos máxis editados pela Roulé, a cena francesa era outra. Se os Daft Punk, a partir de “Homework” (1997), são os pais do french touch, os Motorbass não ficam isentos de responsabilidades nessa multiparentalidade.
A primeira vez que ouvi o álbum “Pansoul” (1996), dos Motorbass, não sei precisar o ano, mas seguramente há muito, foi num dia de inverno, ainda no tradicional chuvoso e friorento. Sei que nessa semana o álbum rodou em loop e foi directamente para o top pessoal das coisas mais refinadas da electrónica e da house que ouvira até então, onde o disco, o funk, a house e as técnicas do sampling e do scratch, oriundas do hip-hop, confluem. Desde aí, “Pansoul” passou a constar na chart das masterpieces da house music. É por essa altura que, numa busca mais apurada, descobri que o génio Philippe Zdar partilhava a autoria não só dos Motorbass como também dos Cassius. Tornou-se para mim, e certamente para uma geração que acompanhou a dance scene nos últimos anos da década de 90 e inícios de 00’s, uma referência.
Zdar (1967-2019), DJ, músico e produtor de bandas como Beastie Boys, Air ou Hot Chip, faleceu hoje, numa queda acidental de uma janela, em Paris. E, ironia do destino, o novo álbum do duo Cassius sai amanhã. Porra! Há coisas do caraças.
Texto escrito por Gabriel de Oliveira Feitor.
O Gabriel nasceu e foi criado na terra da sola, Alcanena. Entre o Ribatejo e Lisboa é investigador e doutorando em História Contemporânea. É também um entusiasta por política, livros, música, dança contemporânea, liberdade e pela vida.