O novo universo sonoro dos And So I Watch You From Afar soa melhor que nunca

por João Miguel Fernandes,    24 Dezembro, 2017
O novo universo sonoro dos And So I Watch You From Afar soa melhor que nunca

Da fornada de magníficos álbuns editados pela Sargent House em 2017 (Chelsea Wolfe, Emma Ruth Rundle, Tera Melos, etc) surge este igualmente incrível “The Endless Shimmering”, novíssimo álbum dos irlandeses And So I Watch You From Afar.

Após quatro álbuns bastante bem sucedidos, onde se destaca o primeiro, os ASIWYFA continuam a impressionar com o seu dinamismo e virtuosismo técnico pelo mundo do mathrock misturado com elementos de post-rock.
Neste álbum sentimos algumas influências algo diferentes da banda, possivelmente de alguma inspiração mais cósmica de outros membros da editora Sargent House. Existem mais efeitos sonoros do que habitual, mas as guitarras electrizantes continuam lá a guiar-nos numa viagem frenética pelo universo de um dos estilos mais elaborados e complexos, o mathrock.

“Three Triangles” é o inicio de uma bela viagem por um universo tão próprio da banda irlandesa, numa bela mistura entre o post-rock e o mathrock, algo que só eles conseguem fazer desta forma. Assim que entramos no álbum é difícil sair. E é aqui que a banda é perita em cativar os seus ouvintes. Cada música é diferente da anterior, mas consegues perceber perfeitamente que cada uma delas faz parte de um topo, de uma história, uma viagem. Se existem músicas que começam de forma mais calma, outras entram a rebentar. Este é um álbum para ouvir bem alto, numa atmosfera bem própria.
“Terrors of Pleasure” é uma das faixas mais virtuosas, com um baixo de fazer apaixonar qualquer um. A destruição de riffs (no bom sentido) sentida em “Mullally” é no mínimo incrível. Se para o ouvinte menos treinado/atento pode ficar a sensação inicial de que faltam algumas vozes aqui e ali, para os fãs da banda isso é claramente algo que não
tem espaço. Os ASIWYFA sabem exactamente como criar as suas melodias sem recurso a vocais. Existem partes mais dançantes, outras mais destrutivas e algumas mais calmas, mas no geral estamos perante um álbum para ser observado como um todo, provavelmente o álbum da banda que está mais dependente de cada faixa e não apenas de algumas isoladamente.

Embora não vá ser opinião geral entre os fãs, este “The Endless Shimmering” é dos melhores álbuns da banda e uma clara evolução sonora que demonstra uma certa maturidade em transformar toda a complexidade musical da banda em algo com uma estrutura mais fácil de seguir. Alguns poderão achar que a banda está sem ideias, outros que a
simplicidade de algumas músicas é fruto de pouca inspiração, mas no geral fica a sensação de que os irlandeses sabem exactamente o que fazer e para onde ir e nós só os queremos seguir nessa viagem.

Existem poucas bandas a tocar tão bem quanto os ASIWYFA, mas mais relevante é a forma como a banda conseguiu aqui criar um álbum com uma narrativa sem recurso a vocais e esse é o maior bónus deste álbum, além de toda a genialidade de cada música e aquela composição aditiva habitual que nos faz querer mergulhar no álbum para sempre. Um dos álbuns do ano, indiscutivelmente.

 

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