O regresso menos bem sucedido de “Death Note”

por João Miguel Fernandes,    6 Fevereiro, 2020
O regresso menos bem sucedido de “Death Note”
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Death Note está de volta em formato manga. Após vários anos, temos a possibilidade de regressar ao universo criado por Tsugumi Ohba e Takeshi Obata e voltar a ver algumas personagens conhecidas. No entanto, a história é inteiramente nova e passa-se após a história principal de Kira. Sempre com um tom meio sarcástico e irónico, aborda a evolução da tecnologia e como seria se Kira existisse hoje em dia, com tanto controlo a nível de segurança.

Embora seja de louvar esta nova abordagem de não tentar repetir a história original, a forma como a narrativa avança parece algo apressada. Inicialmente somos apresentados a um novo personagem que Ryuk escolhe para ser o novo dono do Death Note, Minoru Tanaka. Contudo, ao contrário de Kira, Tanaka não é o aluno mais brilhante de sempre, embora a sua inteligência seja comprovadamente elevada. De forma meio caricata, Tanaka decide leiloar o Death Note porque não tem interesse em matar ninguém e também porque descobriu uma forma de ficar rico sem ter que usar o Death Note para matar pessoas. Após o final do leilão descobrimos que Donald Trump é o seu novo dono.

“Death Note”

E é nesse momento que a história decresce imensamente em qualidade. De forma algo súbita e sem nexo, Ryuk diz que foi obrigado pelo Rei dos Shinigamis a introduzir uma nova regra. Essa regra faz com que quem compre e venda o Death Note seja morto. Como tal, Trump recusa o Death Note, por não querer morrer e Tanaka morre. O ridículo desta situação é que a regra só é introduzida após o acto de venda e antes de Trump ter aceite o Death Note, dando-lhe margem para escapar, mas não a Tanaka.

A história inicial é interessante e original, totalmente adaptada aos dias de hoje, onde vivemos num mundo tecnologicamente claustrofóbico e sem liberdade. A forma como Tanaka usa o Death Note é perspicaz e interessante, assim como a aparição de N como o novo L. Contudo, N não tem exatamente nenhuma interação na narrativa, o que faz com que a sua aparição seja meramente simbólica e sem importância. A parte final da história parece algo apressada e sem fundamento, já que destrói por completo todo o entusiasmo que estava a ser criado em torno do leilão do caderno.

Esta história parece ter sido criada com o mero intuito de suscitar curiosidade sobre a narrativa principal e satirizar um pouco a situação política actual. Contudo, do ponto de vista de argumento dentro da série Death Note, acrescenta muito pouca qualidade, ainda que seja sempre interessante revisitar este universo e antigos personagens. Pedia-se um pouco mais, principalmente a nível de conclusão, já que este fecho nos faz sentir que os criadores esgotaram as ideias e fecharam apressadamente a história.

Esta nova história foi publicada gratuitamente em inglês pelo site VIZ e pode ser lida no seguinte aqui.

 

 

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