O rock de Barcelos
Nenhuma região — nem os indivíduos que nela se inserem — consegue fugir aos fenómenos de repetição, tradição, osmose ou hereditariedade a que todas estão sujeitas e Barcelos pode ser um dos epicentros do artesanato minhoto, ter como símbolo o galináceo que também é figura da nação, mas também é no rock que a cidade banhada pelo Cávado tem cravado o seu nome a negrito.
Desde os anos 90, e em várias fases e circunstâncias, Barcelos tem contribuído para as diversas manchetes que o rock nacional nos deu nos últimos anos.
Mas como toda a locomotiva de vanguarda tende a abrandar em algum momento do seu percurso, também a cena barcelense parecia ter dado sinais de estagnação.
À excepção do rejubilo dos Solar Corona — contando com membros de Killimanjaro e Repressão Caótica — é na contínua constelação de marcos alcançados pelos Black Bombaim e no nacional vanguardismo do novo disco do Glockenwise que a terra do galo mantém a sua chama no panorama musical.
Dos Dear Telephone aos Indignu, passando por incursões a solo de músicos saídos destes grupos mais veteranos, a sobrevivência deste berço musical talvez tenha sido sustentada pelas mesmas pessoas que o faziam há 10 anos.
Até há bem pouco tempo.
Num ciclo infernal para os fãs do garage-rock deste planeta, uma nova dinastia ergueu-se a rejuvenescer a aura esquizofrénica dos finais dos anos 60 ao surgimento do post-punk na década de 80.
Desde os inúmeros projectos de Ty Segall, pela contínua aceleração dos The Oh Sees ou pela força natural dos reis King Gizzard and the Lizzard Wizzard, os putos desta década têm cada vez menos posters de Kurt Cobain nas paredes do quarto e mais vontade de tornar qualquer palco num habitat onde tudo lhes é permitido.
Formados há pouco mais de 1 ano, os Gator, The Alligator são uma das provas de como o rock não morreu com o ingrediente extra de surgirem da cidade que o tem ligado às máquinas.
De irreverência punk, natural em miúdos que pensam conquistar o mundo de guitarra e escudo na mão, mas com a inteligência e postura de quem pisa os palcos desde o famoso apedrejamento dos Nickelback, “Life is Boring” é um disco de estreia que torna assustadoras as previsões para o segundo disco.
São 35 minutos de rock à antiga criados por malta que não tem idade para compreender o advérbio de modo “antigamente”.
As influências vincadas dos King Gizzard & The Lizzard Wizzard podem ser desvalorizadas numa geração em que 50% dos putos quer soar como eles.
Mas do querer ao executar com tamanho ímpeto e exclusividade é algo só ao alcance dos melhores tendo noção que o melhor, neste caso, ainda está para vir.
Em apenas 3 meses o quarteto composto por Eduardo Costa, Filipe Ferreira, Ricardo Tomé e Tiago Martins tem rodado o disco o disco de estreia em vários palcos de norte a sul, com destaque para a presença no Festival Termómetro onde, no meio de tanto peixe graúdo, saíram com a melhor classificação entre grupos portugueses e, consequentemente, a confirmação na próxima edição do Festival Bons Sons.
Um passado tão curto que anuncia um futuro tão próspero.
Os Gator, The Alligator são, sem dúvida, uma das maiores promessas do panorama nacional.
E nesta quinta-feira são as gentes de Aveiro e do seu epicentro rock, o GrETUA, que têm oportunidade de comprovar a mestria destes rapazes.
Não fossem eles de Barcelos.
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