O ‘rock pepperoni’ dos Sunflowers

por Joana de Sousa,    20 Abril, 2017
O ‘rock pepperoni’ dos Sunflowers
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Antecipando o Party Sleep Repeat, a decorrer no próximo dia 22 de Abril, em São João da Madeira, fomos ao encontro dos Sunflowers, na Baixa da cidade do Porto. A banda acabara de regressar da Cidade do Cabo, onde tocaram uma série de concertos, a convite de Psych Night & Vans South Africa, tendo participado no festival Cape Town Inner City Psych Fest. Recordamos que os Sunflowers são uma das bandas que poderás ver na edição deste ano do Party Sleep Repeat, entre outros nomes como The Legendary Tigerman, Toulouse, Riding Pânico, Prana, Marvel Lima, Baywaves e A Boy Named Sue. Levantando um pouco o véu daquilo que podes esperar da banda no próximo dia 22 de Abril, aqui está a nossa conversa com Carlos de Jesus e Carolina Brandão:

Vocês acabaram de regressar de África do Sul. Como correram os concertos na Cidade do Cabo?

Carolina: Foram incríveis!
Carlos: Sim!
Carolina: Correram mesmo bem!

Foi a primeira vez que lá foram tocar?

Carolina: Foi… e estamos mesmo tristes de estar de volta a Portugal.

É assim tão mau para banda estar ali com ela?

Carolina: Não! É mau estar em casa em vez de estar na Cidade do Cabo que é uma cidade incrível e onde os concertos correram mesmo bem.

Como surgiu o convite?

Carolina: Foi um promotor…
Carlos: Quando fomos tocar a Lisboa pela primeira vez, em 2015, esse promotor pelos vistos estava lá e viu-nos. Depois apareceu uma fotografia no Instagram e perguntei-lhe se a podia usar e nessa altura começamos a falar e ele disse que organizava lá concertos.
Carolina: E convidou-nos para ir lá tocar.

A questão da praxe: como surgiram os Sunflowers?

Carlos: Tinha um projecto de música e precisava de baixista e de baterista. A Carolina entrou como baixista e não arranjámos baterista. A Carolina passou então para a bateria, a outra pessoa saiu e ficamos nós os dois.
Carolina: O resto é história!

A banda são vocês os dois, contudo em alguns concertos vocês têm um baixista a acompanhar-vos, certo?

Carolina: É um amigo nosso, faz parte dos 800 Gondomar e quando está conosco pedimos-lhe para ir tocar baixo. É um bocado: ele está lá, por que não?

Como surgiu o vosso interesse pela música?

Carolina: Foi logo desde o início. A minha mãe tinha uma guitarra que comprou em Espanha quando tinha uns 15 anos – ou seja, uma guitarra com uns 40 anos – e eu comecei a tocar com aquilo. Depois foi eu tentando abranger mais instrumentos.
Carlos: O meu padrinho deu-me uma cassete com música old school –  ainda devo tê-la lá para casa – depois comprei uma guitarra, no extinto Carrefour, e comecei a tocar e a ver vídeos no Youtube para aprender como se tocava.
Carolina: Eu fazia o mesmo.

Foi então um processo auto-didacta para os dois?

Carolina: Sim.

Quais foram os vossos primeiros álbuns, vinis ou cassetes?

Carolina: O meu primeiro álbum foi um CD dos Beatles; e a partir daí comecei a comprar a discografia toda deles!
Carlos: O primeiro CD que comprei foi o Blonde on Blonde do Bob Dylan.

Há algum motivo em especial para terem editado o vosso trabalho apenas em formato de vinil e cassete? O que vos levou à escolha destes formatos?

Carolina: Achamos que o CD é já uma tecnologia em extinção, não é? Mas o álbum vai ser editado em CD em França, depois podemos trazê-lo para Portugal nesse formato.

Vocês estão envolvidos num projecto, O Cão da Garagem, correcto? Podem falar um pouco acerca disso?

Carlos: O Cão da Garagem já vem detrás…
Carolina: Sim, o Cão da Garagem foi fundado em 2014, foi ao mesmo tempo que nós aparecemos basicamente. Porque nós queríamos lançar o nosso primeiro EP…
Carlos: E não tínhamos editora!
Carolina: Sim, não tínhamos editora mas decidimos ter um logo. Foi no nosso concerto no Canhoto, em que apareceram três pessoas, tínhamos um cartaz que desenhamos à mão e eles tinham um cão, e nós achámos imensa piada ao cão e a partir daí foi O Cão da Garagem.
Carlos: Já não me lembro porquê.
Carolina: Também não, mas foi um nome giro! E depois a partir daí foi um bocado algo a brincar mas que entretanto já tem seis edições e vai ter ainda mais bandas. Não sei muito bem o que dizer em relação ao Cão da Garagem mas é uma coisa que queremos pegar quando tivermos mais tempo, talvez fazer uma editora mesmo a sério, eventualmente.

Como se dá o vosso processo criativo? Vocês têm músicas com títulos muito peculiares como a ‘Hasta la Pizza’, ‘Rest In Pepperoni’, ‘UFO Please Take Me Home’…

Carolina: Nós com os nomes é um bocado tudo ao calhas.
Carlos: Nós quando fazemos as músicas normalmente estamos a fazer uma jam em casa e quando é para fazer letra não temos letra na altura.
Carolina: É algo que queremos mudar agora.
Carlos: Porque normalmente o que sai é o que fica.
Carolina: Queremos mudar isso um pouco e ter mais atenção às letras mas também não levar as coisas muito a sério.

Vocês fazem a vossa própria artwork?

Carolina: Sim, a não ser que seja necessário algo mais técnico e aí pedimos ajuda a alguém mas 99% das vezes são desenhos do Carlos.

Como definiriam o vosso som? Já ouvimos várias definições como punk, indie, punk psicadélico, rock n fuzz, mas já que podemos questionar a banda sobre o assunto, vamos lá ouvir de quem realmente cria o som.

Carolina: Indie? Ew! Como é que tu defines, Carlos?
Carlos: Rock Pepperoni. (risos)
Carlos: Nós de semana a semana mudamos um bocado o nosso som por isso é muito difícil englobar. Somos uma banda rock.
Carolina: Nós dizíamos que éramos hippie punk, não era?
Carlos: No início, sim.

Quais são as vossas principais influências a nível musical?

Carlos: Um bocado de tudo aquilo que ouvimos.
Carolina: Nós já temos aquelas influências que já fazem parte de nós, para mim são os Beatles, e para o Carlos é o Bob Dylan.

O vosso primeiro EP foi gravado em casa, mas depois com o «Ghosts, Witches & PB&J’s» vocês começaram a ganhar algum reconhecimento no panorama musical português. Foi por essa altura que vocês se aperceberam que havia realmente um público receptivo à vossa música?

Carolina: Acho que sim, acho que foi mesmo nessa altura. Até porque antes não achava que era possível andar pelo país inteiro a dar concertos. A partir daí começamos também a ser agenciados e demos 35 concertos por todo o lado. E eu não fazia ideia que isso era possível! Por isso, sim, acho que foi a partir daí que começamos a perceber que isto ia dar em alguma coisa, vamos apostar nisto.

Lançaram o The Intergalactic Guide to Find The Red Cowboy no ano passado. A impressão que me dá quando ouço o vosso álbum é que estamos perante uma banda que veio para ficar – e ainda bem – porque acho que a indústria musical portuguesa estava a precisar de alguém com um som ousado como o vosso. Acham que este álbum vos vai lançou para um lugar de mais destaque para conquista do panorama musical em Portugal?

Carolina: Eu acho que este álbum é mais como um cartão de visita. Não era bem o que nós queríamos, mas também não tivemos muito tempo de gravação, fizemos tudo em seis dias. Três dias de gravação e três dias de mistura, foi mesmo rápido. Por isso, se calhar já não é bem o que somos agora. No entanto é um bom cartão de visita, é um bom álbum para nos apresentarmos ao mundo da música, como disseste.
Carlos: É a primeira coisa gravada que se aproxima mais àquilo que nós somos ao vivo.
Carolina: Claro que depois de estarmos um ano a ouvi-lo há coisas que queremos ir lá mudar mas não podemos, mas fazemos isso ao vivo.

Como definiriam o público ideal dos Sunflowers?

Carolina: Acho que é um público que gosta do que está a ouvir. Por exemplo, na Cidade do Cabo, no nosso primeiro concerto, até me deu arrepios de pensar nisso; é que estavam a cantar as nossas músicas, em África! E a dançarem! E tinha uma rapariga que levou uma blusa com girassóis por nossa causa. Acho que não posso pedir isso sempre, mas pessoal que esteja interessado e que esteja a gostar do que está a ouvir é só isso que eu quero.

Não é só a nível nacional que vocês são reconhecidos. Como disse a Carolina anteriormente, o vosso álbum vai ser editado em França, e consultei a vossa agenda e têm também algumas datas pela Europa em breve, para além de terem acabado de regressar da Cidade do Cabo. Como se sentem de ver o vosso trabalho reconhecido internacionalmente? E quais são as diferenças em relação ao público português?

Carlos: A diferença é que falam inglês. (risos)
Carolina: Vamos ter concertos em Espanha e França para apresentação do álbum que vai ser reeditado em França.
Carlos: A diferença é que em África do Sul eles falam inglês e eles percebiam mesmo se conjugássemos mal os verbos ou assim. Mas apanhavam as letras facilmente e cantavam conosco.
Carolina: Foi incrível, foi mesmo de arrepiar.

Há uma clara evolução desde o vosso EP, Ghosts, Witches & PB&J’s e o vosso LP, The Intergalactic Guide to Find The Red Cowboy. Atribuem isso ao vosso trabalho como grupo e as concertos e posterior evolução como músicos que se reflete no vosso som?

Carolina: Porque aprendemos a tocar melhor também! (risos) Não temos muito aquela coisa de ensaiar, devíamos ensaiar muito mais do que o fazemos.
Carlos: Mas é sempre fixe porque se não ensaiamos podemos improvisar à vontade.
Carolina: E também é um bocado por aí. Se nos enganarmos contornamos a situação e todos os concertos que tivemos ajudaram-nos a aprender a tocar e a ter uma maior química juntos. E depois também passamos duas semanas em Arouca no Verão, sempre a tocar.

Quais foram as principais diferenças na gravação do vosso EP e do vosso LP?

Carolina: Acho que já estávamos mais à vontade no estúdio.
Carlos: Também já sabíamos o que queríamos fazer no álbum. Já tínhamos algo mais definido.
Carolina: Sim, até porque começamos a trabalhar em ideias para o álbum uns meses antes em casa e por isso é que o processo de gravação foi tão rápido.

Daqui a uns dias vocês vão estar no Party Sleep Repeat, em São João da Madeira…

Carolina: Sim, nós não gostamos de planear com muita antecedência.
Carlos: Provavelmente só mesmo quando chegarmos lá é que vamos começar a pensar no alinhamento e assim.
Carolina: O nosso único pensamento é «vamos lá destruir isto e vamos embora».
Carlos: Acho que não vamos ter tempo de ver ninguém porque somos os primeiros a tocar, se não estou em erro.

Para terminar, quais são as perspectivas para o futuro dos Sunflowers?

Carlos: As perspectivas para o futuro são continuar a gravar, lançar coisas e dar mais concertos. E ir mais vezes à Cidade do Cabo! (risos)
Carolina: Exacto! Agora temos de ir a outros países para além de África do Sul. Acho que o nosso grande plano era comprar um mapa mundo e começar a riscar os países a que já fomos tocar.

Fotografias de Sandrine Malta

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