O samba continua, e a luta também

por Manuel Neves,    9 Maio, 2025
O samba continua, e a luta também

Assim começa o Samba do Trabalhador, de Martinho da Vila, com uma ironia afiada sobre a rotina laboral. Martinho canta, em tom bem-humorado, as desculpas e escapadas durante a semana, mas nunca esquecendo do essencial: o pagamento no fim do mês e os direitos conquistados, como férias e o décimo-terceiro mês. Por trás da leveza, há uma crítica certeira às condições que fazem o trabalhador sonhar com o descanso enquanto segura as pontas o ano inteiro.

E é exatamente essa realidade que está em jogo hoje em Portugal. A greve é, e sempre será, um direito fundamental inscrito na nossa Constituição. Não é um capricho partidário nem uma questão de campanha eleitoral: é a ferramenta essencial que os trabalhadores têm para conquistar e defender condições dignas e respeito. Quando vemos o atual Primeiro-Ministro afirmar que se trata de uma greve “completamente injusta” e ameaçar que “um dia vamos ter de pôr cobro a isto”, percebemos bem a gravidade da afronta à democracia e aos direitos laborais.

Insinuar que a greve teve “influências políticas, partidárias e eleitorais” e sugerir mexer na lei para “equilibrar” o direito à greve com outros direitos é nada mais do que uma tentativa clara de enfraquecer a luta dos trabalhadores. E o mais gritante: já nem disfarçam a vontade de travar aquilo que os incomoda — a luta coletiva.

Esse embate não é sobre esquerda ou direita: é sobre democracia. Sem trabalho, nada funciona. A greve é prova viva de que os trabalhadores têm força e merecem respeito. E não é só em tempo de campanha que os governantes devem prestar contas — é todos os dias, porque a vida dos trabalhadores não para.
Martinho ironiza a dureza da vida laboral com humor e leveza, mas a mensagem por trás é clara: os direitos dos trabalhadores não são favores nem dádivas. São conquistas duramente alcançadas e precisam de ser defendidas com firmeza e determinação.

Por isso, dizemos com clareza: nem um passo atrás. Qualquer tentativa de silenciar o “samba do trabalhador” ou travar a marcha da luta coletiva será enfrentada com coragem e união. Porque o povo sabe: direitos não se pedem, conquistam-se e defendem-se.

O samba continua, e a luta também.

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