Obras no Teatro Camões vão acabar com infiltrações, aumentar espaço e luz natural
Plásticos no teto, baldes no chão, paredes descascadas e vigas enferrujadas denunciam a degradação do Teatro Camões, em Lisboa, que ontem entrou em obras para resolver problemas estruturais, ganhar espaços mais amplos, luminosos e áreas consagradas aos bailarinos.
As obras de requalificação do Teatro Camões, sede da Companhia Nacional de Bailado (CNB), vão decorrer no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), num investimento global de 5.894.175 euros, estando o espaço encerrado desde julho do ano passado.
Numa visita ao teatro, que marca o início das obras, que decorreu durante a manhã de ontem, ficou claro o estado de deterioração do edifício, sobretudo no que respeita a infiltrações que deixam entrar água um pouco por todo o lado.
Partes dos tetos do interior do edifício protegidos por plásticos colados com fita adesiva, baldes, vasilhas e bidões dispostos estrategicamente no chão das salas para apanhar a água que cai, o chão deteriorado e vigas de metal enferrujadas são apenas alguns dos sinais visíveis da incapacidade de a estrutura manter uma impermeabilização eficiente.
Ao longo dos corredores e escadas, erguem-se paredes com manchas negras de humidade, com tinta empolada, em algumas zonas já descascada, e com fios de água que escorrem, arrastando consigo marcas de ferrugem.
Ciente desta realidade, a presidente do conselho de administração do Organismo de Produção Artística (Opart), Conceição Amaral, afirmou que a principal preocupação nestas obras de requalificação é “mudar as condições de quem trabalha” naquela casa.
Além da intervenção que visa resolver os problemas estruturais, e que passa por mexer na cobertura toda do edifício, para impedir a entrada de água, impermeabilizar paredes e chão, climatizar o espaço e renovar esgotos, tubagens, camarins e casas de banho, houve também a preocupação de aproveitar a luz natural.
“Esta é uma zona de Lisboa com tanta luz, que seria estranho se não a aproveitássemos”, afirmou Conceição Amaral, acrescentando que também a luz exterior vai ser alterada, de forma a “afirmar o edifício como cultural” e torná-lo visível em noites de espetáculo.
Eficiência energética, modernização de equipamentos técnicos e criação de espaços específicos totalmente consagrados aos bailarinos, mas também aos funcionários do teatro, foram outros aspetos acautelados nesta restruturação do edifício.
A sala de espetáculos, onde fica o palco, é a que se encontra em melhor estado e que, excetuando alguns pontos com infiltrações, não precisará de nenhuma intervenção de fundo, para além de umas pequenas alterações, nomeadamente no que respeita à iluminação e à alcatifa, que serão substituídas.
A responsável adiantou que o sistema de som – que admitiu não ser bom -, o vídeo e a mecânica de cena também vão ser melhorados, mas numa obra que correrá paralelamente e que não está incluída nesta empreitada.
A obra interior mais profunda vai acontecer num andar de cima, que “vai ter mais alteração de ‘lay out’”, com demolição de paredes, quer para ampliar espaços, como para fazer janelas e deixar a luz entrar.
Nesse andar será criada uma sala de ‘marketing’ e comunicação, e ao lado uma sala de recuperação, descanso e convívio para os bailarinos, e um ginásio, com zona de fisioterapia.
Este espaço é uma grande aposta, porque até agora o Teatro Camões não tinha área para os bailarinos descansarem entre ensaios, o que normalmente faziam no exterior do edifício ou pelos corredores.
No mesmo andar, mas na fachada oposta (fachada sul) vão ficar as salas das costureiras, das provas e do guarda-roupa.
“Os figurinos estavam nos corredores” e as provas eram feitas sem um espaço próprio, indicou Conceição Amaral, sublinhando que foi feito um “investimento grande em maquinaria e máquinas de costura”.
“O espaço vai ficar todo muito mais aberto e luminoso”, destacou.
No último piso fica o estúdio de ensaios, que levará um chão totalmente novo, mas cuja grande mudança será mesmo “uma parede que vem toda abaixo para permitir a entrada de luz natural”.
Saindo do estúdio, um corredor conduz até a uma porta que dá acesso a um espaço exterior junto à cobertura, que estava desaproveitado, mas que agora será transformado num terraço para usufruto de todos os funcionários do teatro.
Também a porta que dá acesso ao terraço vai ser transparente para deixar entrar luz no corredor.
Após a visita, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, considerou que “com o estado de degradação que o teatro atingiu, era fundamental fazer obras de conservação, mas também para criar melhores condições de trabalho” a todos os que ali trabalham e melhorar a experiência de quem vai assistir a espetáculos da companhia.
Conceição Amaral assinalou que “viver dentro de uma caixa de ferro praticamente sem luz natural não é bom para o dia-a-dia e para a saúde das pessoas no trabalho”.
A responsável destacou que apesar do atraso desta obra em relação à data inicial, não há atrasos face ao cronograma do PRR, que estabelece como prazo o terceiro trimestre de 2024.
A presidente do Opart afirmou que, “se tudo correr bem”, em setembro a obra está terminada e em outubro o teatro reabre ao público “com uma grande produção da CNB”.
Falando especificamente do investimento que tem sido feito pelo Opart, Conceição Amaral indicou que em 2022 foi na ordem dos 400 mil euros, em 2023 rondou um milhão e em 2024 foi de cerca de quatro milhões.
O Teatro Camões encerrou em julho do ano passado para preparação das obras de reabilitação, no âmbito do PRR, com término inicialmente previsto para abril deste ano, entretanto adiado.
A seguir ao encerramento do teatro, em julho do ano passado, conforme previsto, deu-se a desinstalação das pessoas e equipamentos, e respetiva realocação, nos Estúdios Victor Córdon e Teatro Nacional de São Carlos, o que “decorreu normalmente”, segundo a responsável.
No entanto, o primeiro concurso público lançado para a obra, em maio do ano passado, ficou vazio, tendo perdido efeito em junho, o que obrigou ao lançamento de um novo concurso, ainda nesse mês, explicou, justificando assim o atraso relativamente ao calendário inicialmente previsto.
Só com a empresa selecionada e vencedora do concurso (em final de agosto) foi possível assinar o contrato em início de outubro.
Findos todos os procedimentos legais, apenas em janeiro decorreu o auto de consignação e restantes formalidades necessárias para dar início à obra.