Observatório da Universidade Nova recomenda formação contínua de jornalistas em inteligência artificial

por Lusa,    28 Janeiro, 2025
Observatório da Universidade Nova recomenda formação contínua de jornalistas em inteligência artificial
Greve Geral dos Jornalistas em Lisboa (2024) / Fotografia de Rui André Soares – CCA

Um estudo do observatório social para a Inteligência Artificial (IA), da Universidade Nova, aconselha as empresas a investir na formação contínua em IA e a antecipar o seu impacto para requalificar os jornalistas e outros profissionais.

Criar diretrizes claras no uso da IA no jornalismo, fomentando a segurança e inovação, são outras recomendações do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, que fez um inquérito em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e que hoje é divulgado em Lisboa.

Nesse questionário, 59,5% dos inquiridos afirmam já ter ouvido falar da IA, mas não têm uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam que ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.

Com base numa “investigação sistemática”, escreve Paulo Nuno Vicente, do observatório no relatório “Jornalistas e Inteligência Artificial: perceções, práticas, desafios e oportunidades”, procura-se “não apenas mapear o panorama atual, mas também contribuir para debates mais amplos sobre a sustentabilidade e qualidade do jornalismo numa era marcada pela automatização”.

Entre os desafios do jornalismo, o professor e coordenador do Doutoramento em Media Digitais destaca, pela negativa, “questões como a desinformação amplificada por algoritmos, a perda de autonomia profissional em processo por plataformas e a precariedade”.

A introdução da IA, lê-se no relatório, “exige respostas coordenadas de empresas dos media, organizações profissionais e entidades estatais”.

A Inteligência Artificial pode trazer oportunidades para “acelerar a investigação de dados, detetar padrões em grandes bases informativas e criar experiências mais interativas”.

Às empresas de media é recomendado que identifique as funções que possam ser afetadas pela Inteligência Artificial para “antecipar necessidades futuras” e promover a “requalificação dos profissionais”, sugerindo ainda ao Estado que adote “políticas de apoio à transição digital no jornalismo”.

Sugere-se, igualmente, que as empresas de comunicação invistam em “programas de formação contínua” sobre IA, defendendo-se que as entidades estatais os apoiem. Às organizações profissionais propõe-se que desenvolvam “guias acessíveis e recursos educativos sobre IA”.

Aos responsáveis dos media, recomenda-se que se desenvolvam “estratégias editoriais robustas e diretrizes específicas” no uso da IA, “em colaboração com os jornalistas e entidades académicas” e às organizações profissionais que façam um “conjunto de boas práticas”.

Aos órgãos de informação que venham a usar a Inteligência artificial a recomendação é apostar em “conteúdos diferenciados e exclusivos, reforçando a identidade editorial”.

As organizações profissionais podem responder aos desafios para o jornalismo colocados pelas grandes empresas tecnológicas (‘big tech’) com campanhas de sensibilização sobre a ética e independência no jornalismo.

E ao Estado é pedido que regule a utilização da IA pelas ‘big tech’ para garantir o respeito pelos direitos dos jornalistas e dos órgãos de informação.

No capitulo do “treino de IA” generativa, recomenda-se ainda aos media “políticas claras” na partilha de conteúdos, incluindo cláusulas contratuais para proteger a propriedade intelectual e ao Estado que tenha regulamentações para “proteger os direitos de autor”.

O relatório do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, resulta de um questionário, distribuído pelo Sindicato dos Jornalistas aos seus associados, e foi respondido por 74 profissionais de informação, entre 02 de março e 17 de abril de 2024.

O estudo da Universidade Nova de Lisboa, é da autoria de Paulo Nuno Vicente, José Sotero, Ana Marta Flores e será hoje apresentado e discutido numa mesa redonda em Lisboa.

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