“Ohms” é uma viagem electrizante pelo universo mais pesado dos Deftones

por João Miguel Fernandes,    27 Outubro, 2020
“Ohms” é uma viagem electrizante pelo universo mais pesado dos Deftones
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4 anos após o lançamento do seu álbum anterior, os Deftones estão de regresso com Ohms, um álbum pesado, consistente e com excelentes músicas.

Uma das características impressionantes dos Deftones é a sua longevidade e capacidade de produzirem álbuns de extrema qualidade com a mesma identidade anos após anos. Conotados fortemente com a vaga de Nu Metal dos anos 90, os Deftones sempre tiveram uma sonoridade única que mais nenhuma banda na história possui. Esta forte identidade deve-se à forma como misturam vários géneros, desde o metal mais alternativo ao rock mais experimental (post-punk, post-hardcore, post-rock), mas principalmente à forma como o vocalista Chino Moreno canta. A mistura de berros com voz melancólica torna os Deftones especiais, únicos no panorama do rock mundial. Essa mistura de influências compactada de forma excelente fê-los atrair diversos tipos de fãs, algo que fez com que a banda tenha conseguido resistir ao tempo e se tenha mantido no topo durante tantos anos, mesmo após terem rompido com a influência do Nu Metal.

Ohms é um álbum algo selvagem, com muita agressividade, mas também com algumas das melhores composições de Deftones dos últimos anos. Com quase todos os membros com praticamente 50 anos, os Deftones apresentam-se mais energéticos do que nunca. Não há tempo para respirar durante esta viagem de apenas 46 minutos. É um álbum curto, mas bastante intenso. São 10 faixas onde os Deftones juntaram todo o seu vasto conhecimento musical e lhe deram um aspecto robusto e explosivo.

Fotografia de Frank Maddocks

Começamos com “Genesis”, uma das melhores faixas do álbum, onde o teclado de Frank Delgado se faz ouvir a bom som, assim como os berros de Chino e os excelentes riffs de guitarra que esta música tem. Saltando para “Urantia”, onde os sintetizadores de Delgado nos levam para outro universo, chegamos também a outra das melhores faixas deste álbum. Os teclados de Delgado oferecem um equilibrio único a todas as músicas, embora todos os membros estejam em destaque ao longo do álbum, Delgado sobressai um pouco mais. Mas Chino Moreno tem aqui alguns dos melhores momentos da sua carreira, com uma dualidade incrível entro berros e melancolia, um mestre que só tem vindo a melhorar com o tempo.

Este projecto, assim como todos os álbuns anteriores de Deftones, tem uma aura especifica, uma certa atmosfera. Neste caso, a atmosfera é negra, pesada, mas não necessariamente negativa. Este álbum apresenta o melhor de cada membro dos Deftones, conseguindo criar faixas impressionantes como “The Spell of Mathematics”, onde os seus riffs únicos entram para a categoria dos melhores da carreira da banda, ou “Radiant City”, outra faixa bastante poderosa. Por outro lado, “Ceremony” e “This Link is Dead” remetem-nos para os Deftones da carreira inicial, mais ligados ao Nu Metal, onde as guitarras são mais claras e simples (no bom sentido).

Ohms é um álbum fácil de se escutar, ao contrário de White Pony, que tem uma sonoridade bastante própria e bem mais lenta, o novo álbum da banda é mais ao estilo de Diamond Eyes, onde o rock perdura, embora aqui de forma ainda mais pesada. A produção de Ohms é do melhor que podemos esperar, elevando certos detalhes ao topo, como os riffs e os seus teclados, mais uma oportunidade para voltarmos a elogiar “The Spell of Mathematics”. Outra das faixas mais entusiasmantes do álbum é “Headless”, quase devastadora no bom sentido da palavra.

Há pouco de negativo a referir neste álbum, talvez o facto de existirem poucas músicas ao estilo de White Pony, mas isso não é necessariamente mau. Não existem músicas mais “calmas” em Ohms, todas as faixas são tiros de energia constantes. Isso resulta numa identidade bastante compacta, o que é positivo, mas pode ser negativo para quem gosta das versões mais calmas de Deftones. Este é um álbum pesado onde não existe muito espaço para as habituais baladas de Chino Moreno, mas sim para o seu lado mais agressivo. Esta sonoridade dá também bastante espaço para que ao vivo o álbum seja incrível. Vai, contudo, exigir bastante de cada um dos seus membros, já que os teclados e guitarras têm vários momentos de verdadeira complexidade, e a voz de Chino Moreno é levada ao máximo, com berraria do melhor que já ouvimos em Deftones. Contudo, pelo que se tem visto nos últimos concertos, a banda não sente o peso da idade e os 50 anos de quase todos os membros parecem os 25 de todos nós.

Ohms é um álbum bastante uniforme, que faz todo o sentido no seu todo, com uma identidade única na discografia dos Deftones. Há um esforço da banda em criar uma sonoridade mais pesada e com a mesma identidade da banda, o que resulta num disco aprimorado e cheio de detalhes deliciosos. Este é, sem dúvida, um dos melhores álbuns da banda, tanto por ser capaz de criar músicas bem compostas e desafiantes do ponto de vista técnico, como pela identidade que cria, sem esquecer a sua génese. Bastante atmosférico, envolto numa nuvem de uma qualquer tempestade e bastante detalhado, Ohms é uma amostra de que os Deftones têm muito mais para nos oferecer e que estão aqui para durar.

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