Ómicron: uma praga ao estilo de Jack London
Em 1912 Jack London publicava “A Praga Escarlate” (The Scarlet Plague) uma pequena obra que abordava uma pandemia incontrolável e que abalava o mundo em 2013, cem anos após a sua publicação. A chamada morte vermelha, ou praga escarlate, varre o planeta e faz ruir a civilização. O mundo colapsa e regressa aos tempos mais primordiais da humanidade onde reina o medo, impera o isolamento e saqueadores vagueiam por cidades completamente abandonadas. Sessenta anos depois James Smith, que em 2013 era um jovem professor universitário de literatura em São Francisco, narra aos seus netos as histórias desta terrível pandemia, difícil de acreditar que tenha realmente acontecido. A obra foi reeditada em português pela editora Antígona em Janeiro de 2021.
A Praga Escarlate era, até há bem pouco tempo, uma obra pouco conhecida de Jack London que não teria grande notoriedade dentro daquilo que era o seu repertório literário. A pandemia actual fez com que ganhasse uma certa notoriedade, até porque se trata de uma obra escrita no início do século XX, que aborda uma pandemia no início do século XXI. Todavia, desde o início da actual pandemia em que nos encontramos, estivemos sempre longe de um cenário semelhante ao descrito na praga escarlate onde, cada infectado ficava com a pele vermelha e sofria uma paralisia gradual que começava nos membros inferiores e percorria o corpo até parar o coração, numa morte quase que instantânea. A variante ómicron do coronavírus propaga-se de uma forma semelhante à praga descrita por Jack London neste seu livro, mas está a anos-luz de causar os danos nele descritos. Tudo porque conseguimos encontrar a tempo um leque de vacinas que nos salvassem de males maiores.
Não deixa de ser curiosa uma das frases proferidas pelo velho James Smith, diante dos seus netos, quando olha com lástima para o gigantesco retrocesso tecnológico e científico da década de 70 do século XXI: “Se ao menos um químico ou um físico tivesse sobrevivido! Só que não aconteceu e esquecemos tudo.” Em 1912, Jack London já sabia que eram a ciência e a tecnologia que nos salvariam de males maiores, e é nelas que temos que continuar a confiar. Não fosse a ciência, a variante ómicron poderia causar danos próximos daqueles causados pela praga escarlate. Não fosse a tecnologia, nunca conseguiríamos assegurar a nossa subsistência durante as diversas fases desta nossa praga que ainda não acabou. Ainda desconhecemos muita coisa e nem sempre conseguimos ser infalíveis. Mas é graças à ciência e à tecnologia que alcançámos e desenvolvemos até aos dias de hoje que conseguimos evitar que a pandemia de coronavírus fosse “escarlate”. E é de mãos dadas com a ciência e com a tecnologia que, mais uma vez, vamos continuar a caminhar e a enfrentar todas as adversidades que ainda nos a possam vir a surgir.