Opinião. As chamas na Austrália aproximam-se daqui
(porque estamos dependentes de um banho de sangue)
O que está a acontecer na Austrália é uma catástrofe. Milhares de pessoas em fuga, engarrafamentos, populações encurraladas entre o fogo e o mar, mortos e pavor pelo que possa acontecer nas próximas horas.
O primeiro-ministro, o liberal Scott Morrison, foi obrigado pelos habitantes de um lugar em chamas a sair da pequena cidade – as pessoas acusaram-no de ser um dos responsáveis pela tragédia e ameaçaram-no se não se retirasse.
É uma catástrofe longe dos nossos olhos, mas que nos emociona e preocupa como se as chamas estivessem perto. Há razão para isso, as chamas estão perto, cada vez mais. Daqui e de qualquer lugar num planeta cada vez menos seguro. Na Austrália, nas cheias na Indonésia, na vaga de frio na Índia, na Amazónia, na poluição atmosférica nas grandes cidades chinesas, no que aconteceu em Veneza ou no Mondego.
Nem todos os acontecimentos têm uma correlação direta com as alterações climáticas, mas todas são a consequência de uma mudança de paradigma que nos deixa inseguros e à mercê da ideia de que estamos por nossa conta e dependentes do que a natureza decidir.
Políticos como Morrison ou todos os que continuam a brincar ao progresso e a satisfazer os lobbies do petróleo irão mais tarde pagar um preço alto. Ainda veremos muitos a serem acusados e perseguidos por populações em fúria, mas aí poderá já ser demasiado tarde.
Sou um otimista. Acredito que acabaremos por criar as condições para atrasar o fim do planeta. Mas infelizmente as medidas só serão decretadas globalmente depois de algumas tragédias massacrarem os olhos do mundo. Esta da Austrália e outras a que assistiremos. Só um banho de sangue pode salvar o planeta, só a partir daí tocará uma qualquer campainha. uma ironia trágica e perversa. É como se tivéssemos regressado ao labirinto do Minotauro.