Opinião. Cristina Ferreira poderá ser Presidente da República?
Vi toda a entrevista de Cristina Ferreira ao último Cinco para a Meia-Noite, programa da RTP1. E li a entrevista publicada na última quinta-feira pela revista Visão à popular apresentadora de televisão. Numa e noutra Cristina assume como hipótese a possibilidade de se candidatar à Presidência da República, desejo que confessara no final de 2019.
Vamos por partes.
Começo pelo óbvio. Cristina é tudo menos parva. Sabe o que faz, sabe o que diz e sabe os efeitos das suas opiniões. Pareceu-me inteligente – aproveita em seu benefício o que aparentemente são fragilidades (suburbana, ostracizada pelas elites). É bonita, uma espécie de paradigma de My Fair Lady. É insinuante sem ser vulgar.
Arrisco dizer que é amada pelo povo por ser muito parecida com o que o médio denominador comum das mulheres gostaria de ser e do que o médio denominador dos homens gostaria de ter. É como o povo, mas melhor. Faz sonhar com a ideia de que é possível alguém que nasce pobre poder ser rico, alguém que nasce na Malveira poder ser do mundo, alguém que se fez a si próprio chegar a Presidente da República ou a rainha das audiências.
Engraçado ter ido ao programa de Filomena Cautela e Inês Lopes Gonçalves, mulheres cosmopolitas que, aparentemente, vivem num universo oposto ao de Cristina Ferreira. Incrível a habilidade da apresentadora da SIC para entrar nas brincadeiras sem nunca se comprometer com elas. FC e ILG baixaram um bocadinho de nível para ir ao encontro da audiência de Cristina e Cristina deixou-as a ir, elevou a sua fasquia e saiu como uma senhora. Tudo estudado, racional e muito bem executado. Chapeau.
Sobre o seu desejo de suceder a Marcelo Rebelo de Sousa diria duas coisas.
Em primeiro lugar que pode ganhar. Num país tão pouco politizado, e com tão baixos índices de compreensão sobre os mecanismos sociais, económicos e políticos, porque não? Seria levar à máxima a ideia de que a democracia se transformou num recreio onde o que verdadeiramente é importante passa por estarmos animados em permanência. E quem melhor do que Cristina Ferreira para o conseguir? Quem melhor do que ela para transformar o Palácio de Belém num gigantesco estúdio de televisão em que, 24 horas por dia, poderíamos ver o que a Presidente fazia, com quem reunia, os seus almoços e jantares, as reprimendas que daria ao primeiro-ministro, as visitas guiadas à residência oficial, os segredos dos governantes estrangeiros, os detalhes dos banquetes oficiais, as noites de sono e tudo sobre os seus assessores, cozinheiros, maquilhadores, massagistas, mestres de cerimónias, amores?
Em segundo lugar, o desejo de se candidatar a Belém também diz sobre a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa. Ele é tão próximo das pessoas, tão Papa Francisco, tão aparentemente pouco institucionalista, que levou Cristina a considerar que pode desempenhar bem a função. Cristina Ferreira não o afirmou, mas acha que Marcelo é um excelente apresentador de televisão e que aquilo que ele faz ela poderá também fazer. Se Marcelo é amado pelo país, ela também o é. Nisso está equivocada
Cristina Ferreira não é uma tola. É por isso que se a hipótese for para a frente terei de sair da minha independência e fazer campanha. Contra ela.