Os Boogarins apresentaram ‘Lá vem a Morte’ numa noite cheia de vida
A banda brasileira Boogarins veio até Leiria apresentar o seu último álbum, lançado em 2017, Lá vem a Morte. Contrariamente sentimos vida e foi bem vivida.
O Festival A Porta, CAPITÃO e Ya Ya Yeah foram os culpados por esta noite memorável e por uma grande sessão da “A Porta do Capitão Yeah”. A verdade é que sem eles nada do que descreveremos de seguida teria acontecido.
Por volta das 23h00, a Stereogun recebeu a banda de Leiria Me and My Brain, que nos surpreenderam com o seu primeiro concerto de sempre. Este duo de amigos composto por Nuno Dionísio (Twin Transistors) e Rui Seiça dominaram as teclas com mestria. Invadiram o espaço com música eletrónica psicadélica. A disposição no palco, frente a frente, as luzes deixaram que nos envolvêssemos naquele som um tanto quanto espacial, no entanto não nos fez flutuar. Têm qualidade, presença, mas falta alguma originalidade, versatilidade para ser potente, singular. Foi um bom começo, mas não nos fizeram alucinar ainda.
Depois desta estreia a plateia aguardava expectante pela banda brasileira de rock psicadélico Boogarins. Este projeto surgiu em 2012, em Goiânia, por Fernando “Dinho” Almeida (voz e guitarra) e Benke Ferraz (guitarra e sintetizadores). Estes dois amigos de sempre, juntaram-se e gravaram, felizmente, o inesperado e espantoso álbum As Plantas Que Curam. Que mistura refrescante de Tame Impala, Pink Floyd, uma pitada de Novos Baianos e Mutantes, muito Mutantes. Deram uma nova roupagem ao antigo. Criaram um mundo onde facilmente se embarca por ser familiar e incomum ao mesmo tempo. A dupla entretanto virou quarteto e tem mais dois elementos o Raphael Vaz (baixo) e o Ynaiã Benthroldo (bateria).
Nesta noite de 24 de Outubro, os quatro dirigiram-se até Leiria, para nos apresentarem o seu terceiro álbum Lá Vem a Morte. Bastou entrarem em palco para um sorriso surgir nos nossos rostos. Estávamos sedentos por os ouvir. É notória a reinvenção que ocorreu. “Vestiram-se” de uma certa sobriedade à qual não estávamos habituados. As letras descrevem uma certa descrença nas relações que vivemos no mundo de hoje. Citando o vocalista Fernando Dinho “essas músicas são um reflexo da falta de sensibilidade que vivemos. Talvez seja hora de ser forte, jogar a hipocrisia fora e enfrentar os maus e os bons sentimentos ao mesmo tempo. Encontre uma verdade profunda, além da infinita superficialidade de nossos dias”. Todo este pessimismo, ou realismo, é envolto em músicas recheadas de samples, loops, noise, electrónica e pop. E tudo isto mexe connosco. Mexe com o sentido que temos da inevitabilidade. Com o sentido que temos da vida. Porque a verdade é que o Lá Vem a Morte veio cheio de vida. Deu-nos energia para dançar, para nos contagiarmos com o sorriso aberto do Dinho, para fechar os olhos e sentir o poder da música, que não nos deixa indiferentes. Nada disso. Com alegria e nostalgia ouvimos no encore Lucifernandis. Ficámos com um brilhozinho nos olhos. E por isso – Valeu. Continuem. Voltem. É bom demais.
Texto: Ana Moreira