Os jovens e o mercado de trabalho
Num país que se quer próspero e evoluído, entre vários parâmetros que devem estar a um nível aceitável, deverá certamente estar a forma como se inserem os jovens no mercado de trabalho. O motivo pelo qual escrevo estas linhas prende-se com o facto de, infelizmente, o nosso país não ser o exemplo perfeito (nem perto disso) da eficaz entrada das suas gerações mais novas no mundo laboral.
Para começar, considero ser um mau sinal quando existem estágios sem qualquer compensação monetária, na medida em que tal situação pode afastar algumas pessoas dessa atividade, porque nem todos temos uma estrutura familiar que possa suportar financeiramente os vários custos que um estágio pode ter, tais como as deslocações ou alimentação. Para além disso, um estágio implica, ainda que em tempo de aprendizagem, trabalhar para alguém e, portanto, não vinha mal nenhum ao mundo uma ajuda monetária.
Depois, a dificuldade em entrar no mercado de trabalho. Estamos perante, teoricamente, a geração portuguesa mais bem preparada de sempre, com inúmeros jovens a frequentar o Ensino Superior, bem como outros a concluírem cursos profissionais no 12.º ano que lhes permitem especializarem-se numa área e os deixam em condições de procurar um posto de trabalho. Contudo, ao mesmo tempo que isto acontece, as portas são cada vez mais estreitas, e é cada vez mais difícil arranjar um emprego que ofereça um salário justo e condizente com a formação que se tirou. De que vale estudar durante cinco ou mais anos, se o salário não beneficia os anos em que se estudou, em que se gastou dinheiro em propinas, alimentações ou alojamentos?
Disto resulta que muitos jovens partem para o estrangeiro em busca de melhores salários, e a verdade é que encontram postos de trabalho em que conseguem garantir melhores condições de vida. E se no estrangeiro contratam os nossos jovens, é porque eles demonstram capacidades distintas que mereçam essa mesma contratação, ou seja, Portugal forma jovens com excelentes capacidades, mas são os outros países que aproveitam essa mesma formação. Depois vemos, quando é noticiado, trabalhos de destaque no estrangeiro, ser referido que há portugueses envolvidos nessas equipas. Interiormente ficamos felizes, porque temos compatriotas a vingar no mundo, mas nem nos apercebemos que isso significa que foi o nosso país que não lhes deu condições para esse sucesso dentro de portas. É assim que queremos um bom futuro para o nosso país?
Vão-se safando aqueles que, graças apenas a questões hereditárias, lhes veem portas serem escancaradas, mas esses são uma minoria.
Há eleições em janeiro, e temos um novo ano aí à porta. Temos uma geração jovem que não vê perspetivas de ter melhores condições de vida que a dos seus pais, e isso demonstra que não está a haver evolução, mas sim o contrário. Por isso, apresento o meu desejo para 2022, o de ter uma classe política preocupada com esta questão, e que procure apresentar propostas durante este período pré-eleitoral. Bem sei que estes desejos e promessas na altura de mudança de ano não costumam ser cumpridos, mas mesmo assim vou atirar o barro à parede. Sonhar (ainda) não paga imposto.