Os Vampire Weekend reflectem a pluralidade do mundo em “Father of the Bride”
Após seis anos, tempo passado desde o lançamento de Modern Vampires of the City, o anterior álbum dos Vampire Weekend, regressar à música da banda é uma experiência interessante para os dias que correm. O seu som ficou bastante bem definido ao longo de três óptimos álbuns, como se tivesse ficado cristalizado na paisagem da música alternativa contemporânea. Tendo em conta a preponderância de Rostam Batmanglij (teclista e produtor, entre outras funções) no som que já era standard para os Vampire Weekend, a sua saída em 2016, para se dedicar à sua carreira a solo, deu à banda a oportunidade de começar de novo. A imagética do novo álbum, Father of the Bride, baseia-se num fundo branco, com imagens e cores que dele surgem, sugerindo uma analogia com esse novo começo da banda.
Cada canção é a sua própria tela, com diferentes tonalidades que dão cor a um álbum bastante rico e variado, em que se reconhecem alguns elementos inconfundíveis da banda, mas onde há ainda mais coisas novas que admirar. A ausência de Rostam faz-se notar principalmente na instrumentação, que nunca soou tão orgânica em Vampire Weekend como aqui. “Harmony Hall”, o primeiro single lançado, já fazia antever essa mudança, com a sua guitarra acústica inicial bastante intocada. Isso não é necessariamente mau nem bom, mas sim uma escolha estética que acaba por ser estranha em primeiras audições; isto porque uma das características mais determinantes da música da banda era retirar a abrasividade do som das guitarras, descaracterizando-as. Assim, a banda separava-se dos seus companheiros do indie rock ao tornar o omnipresente instrumento em algo mais soalheiro e brilhante, sendo as guitarras tanto uma personagem de canções como “A-Punk” como qualquer um dos intervenientes das histórias que a banda sempre nos contou.
No entanto, as melodias continuam lá. “This Life” já é uma das melhores canções de Vampire Weekend, tanto que tem de acabar com um fade out do som, porque senão poderia continuar para sempre. “Jerusalem, New York, Berlin” fecha o álbum com a típica beleza das closers dos seus álbuns. Os subtis tons electrónicos dos sintetizadores aveludados trazem textura ao piano cristalino que acompanha a voz de Ezra. Voltando a “Harmony Hall”, não há como esquecer aquela ponte que nos leva ao refrão viciante. Essa bebe da fonte de canções gloriosas como “Freedom! ’90”, de George Michael, resultando numa composição absolutamente jubilosa.
Outra das diferenças, e uma das mais manifestas, é a adição de Danielle Haim como colaboradora mais que pontual — no entanto, não como membro oficial. A sua presença faz-se sentir em vários momentos do álbum, mas as três faixas oficializadas são “Hold You Now”, “Married in a Gold Rush” e “We Belong Together”, que têm um pendor country inexplorado por qualquer um dos projectos (Vampire Weekend ou Haim), num cruzamento inesperado. Apesar de não ser uma experimentação propriamente necessária, acaba por funcionar graças à doçura inerente à voz de Ezra Koenig e à alegria descomprometida que normalmente povoa as canções da banda.
A maior perda que este flirt com a Americana traz é a simplificação das letras de Ezra, agora menos povoadas de referências ou coisas que provavelmente apenas ouviríamos numa canção de Vampire Weekend. Agora, as letras são mais universais, abrangendo o mundo que vemos na capa do álbum. Isto também não é algo mau, significa simplesmente que o universo especial que a banda compôs é agora maior. Este é um universo consciente, focado no ritmo das pessoas que o habitam e naquilo que as circunda. Esta segunda característica é manifestada principalmente nas letras que parecem ser mais um alerta (no meio de muitos) para as consequências do aquecimento global (“The seasons we had don’t mean anything”, “The rising tide’s already lapping at the gate”, “How long ‘til we sink to the bottom of the sea?”). Talvez esta universalidade emudeça algumas das críticas dos detractores da banda, que a etiquetavam como um nicho de collegiate boys. Pois bem, esses rapazes cresceram, assim como os ouvintes que os têm vindo a acompanhar.
Esse crescimento não só se reflecte nas letras, mas também na música, que sempre foi buscar influências a locais longínquos, mas de uma forma mais uniforme. Agora, parece concentrar tudo aquilo que a banda foi ouvindo e captando ao longo da sua vida e carreira, desde a música brasileira (na fabulosa “Flower Moon”, que conta com Steve Lacy na voz) à música japonesa dos anos 80 (“2021”, que faz a sua referência a Haruomi Hosono), assim como uma vertente mais funky (“Sunflower”). No entanto, não só de influências se compõe o som, mas também de diferentes estados de espírito. A maturidade traz canções tranquilas como “Unbearably White”, cuja guitarra vespertina flui com uma leveza ainda mais pacificadora que “Cape Cod Kwassa Kwassa”, e à qual se opõe a correria frenética de “Sympathy”, um dos grandes momentos do álbum, que pega no que “Worship You” fez no álbum anterior e adiciona-lhe ginga.
Toda esta variedade resulta num álbum riquíssimo — quer em histórias, sons ou sentimentos. Parece ser uma espécie de sinopse do crescimento da banda até agora, assim como uma pit stop antes de um novo futuro, ao qual os fãs ainda terão de se habituar. Cada um terá o seu ritmo, mas, canção a canção, este Father of the Bride certamente conquistará a sua audiência.