‘Overdrive’, filme pipoca sem açúcar nem sal
Quando se instala o Verão nas salas de cinema portuguesas instala-se também um quase deserto de qualidade cinematográfica em que um bom filme é quase uma miragem. É também o momento ideal para prestar atenção a algum do cinema mais fraco do ano, mas por vezes com boas intenções, amigo do espectador e que apenas procura a distracção. É nesse contexto que aparece Overdrive, o melhor pior filme da malfadada época que está neste momento nas nossas salas. Tem Scott Eastwood, filho da lenda do Oeste americano (e outras coisas) Clint Eastwood, e que mais uma vez demonstra que, pelo andar da carruagem, nunca passará disso mesmo.
Overdrive será, quase inevitavelmente, pela aparência da sua “capa”, ladrões de carros com estilo e miúdas giras, um filme fraco, a rasgar o medíocre, se olharmos para ele sob um padrão de exigência comum quer a cinéfilos mais atentos quer a espectadores casuais. Ainda assim existem dois pontos de interesse que podem levar um amante de cinema a perder algum tempo a vê-lo. O primeiro na vertente do amante série B, do guilty pleasure rasca do tal cinema perdido dos anos 80 e 90 que não terá hoje mais espaço do que ir directamente para dvd, no sentido em ver de que forma Overdrive se safa nesse campo. Não deixa de ser primeiro curioso que tenha sequer chegado às nossas salas, ainda para mais antes de estrear em países como os Estados Unidos ou o Reino Unido, se é que lá chegará. Talvez isso se justifique pela produção ser de origem francesa, tal como a cidade de Marselha que serve como pano de fundo ao filme o que lhe dá um limitado ponto de interesse, porque seria preferível que Antonio Negret, o realizador, filmasse a cidade em vez das suas discotecas. Dentro da série B rasca, Overdrive é insuficiente, mas pelo menos parece ter noção disso. Em momento algum o filme é arrogante ou dá passos maiores que as pernas, poupando-se a embaraçosos momentos de auto elogio e piada bajuladora de si própria que mancham filmes directamente comparáveis como Italian Job que deveriam ser bem melhores do que o que acabaram por ser. Existem em Overdrive momentos muito maus, entre montagens de perseguição, posturas de personagem, beijos ou interacções com figurantes que chega a ser cómico e de um regularidade quase nobre.
O segundo ponto de interesse é ver como se comporta Scott Eastwood, o filho de Clint Eastwood, cara chapada do pai, o que quase bastaria para ter carisma suficiente para carregar o filme sozinho. Infelizmente, não acontece. Scott já teve alguns papéis em cinema, uns menores, outros como protagonista, mas nunca conseguiu até agora demonstrar ter realmente jeito para a coisa. Em Overdrive parece que isso fica definitivamente confirmado. Scott Eastwood ainda tem um longuíssimo caminho a percorrer se algum dia quiser ser um actor capaz de dizer mais de duas frases de seguida sem esboçar um sorriso traquina envergonhado ao espectador.
Porque é bom: Tem noção de que é um filme fraco, o que lhe permite ter segurança suficiente para assumir essa faceta de forma divertida e descomprometida, o que só por si faz dele um objecto um pouco acima de péssimo.
Porque é mau: Inúmeros clichés com produção rasteira que não serão admitidos por grande parte dos espectadores; narrativa básica, dentro do expectável; Scott Eastwood continua a ser um mau actor.
Crítica também publicada em The Fading Cam