Pão e circo
O Governo anunciou um aumento de 10 cêntimos no subsídio de refeição, mas só a partir de 2027. Sim, 10 cêntimos, e apenas daqui a dois anos. A medida, apresentada como um esforço de valorização dos trabalhadores, soa mais a uma piada de mau gosto: afinal, para aliviar o custo de vida, só se fosse para uma mosca que se alimentasse de migalhas de pão.
Não é apenas o valor que causa indignação, embora 10 cêntimos por refeição seja quase tão ridículo como não aumentar nada, é também o prazo. Em dois anos, os preços dos bens alimentares podem aumentar novamente, tornando esse “reforço” ainda mais insignificante. É uma proposta completamente desfasada da realidade económica que as famílias vivem.
Com um aumento de 5 cêntimos por ano, o governo mostra ser verdadeiramente poupado e um grande planeador a longo prazo: guarda 5 cêntimos este ano, mais 5 cêntimos no próximo, e assim vai amealhando para um dia serem generosos com os trabalhadores.
Se mantiver este ritmo generoso, em apenas 14 anos já teremos acumulado o suficiente para pagar um café de 70 cêntimos. Quanto ao almoço de 12 euros, será preciso esperar um pouco mais: à volta de 240 anos, coisa pouca.
A expressão “pão e circo” ganha aqui um novo significado. Hoje, nem 10 cêntimos chegam para comprar o pão e agradar a malta. E o “circo” não como entretenimento, mas como símbolo do caos e da desconexão do atual governo com o quotidiano real dos portugueses.
No final do dia, este aumento não passa de uma encenação: um gesto político que pretende mostrar preocupação social, mas que, na prática, nada resolve. E se o “pão” já não chega à mesa, o “circo” continua montado. E nós, assistimos, novamente, a mais um número de ilusionismo orçamental.

