Para cada estudante, um lugar na biblioteca

por Francisca Figueiredo,    31 Maio, 2022
Para cada estudante, um lugar na biblioteca
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Sempre que chego a um espaço novo, pergunto onde estão as máquinas de café e onde é a biblioteca. Gosto de bibliotecas. Gosto do silêncio, da luminosidade certa para ler e do acesso gratuito a livros, e por isso, a conhecimento. Por este motivo, são o meu local de eleição para estudar. 

Desde os meus tempos do ensino secundário que vou para a biblioteca municipal Rocha Peixoto na Póvoa de Varzim colocar a matéria em dia. Foi lá que me debati com a Matemática A, decorei a matéria de Biologia e Geologia e fiz todos os exercícios de Física e Química do IAVE. 

Quando entrei na faculdade, mudei de cidade, mas não mudei de hábitos. Na época de exames voltava sempre à “minha biblioteca”. Aquela com um espaço agradável, boa rede de internet, mesas e cadeiras confortáveis. Onde encontrava colegas antigos e amigos. Com o bónus de ser relativamente perto do mar, o que me permitia finalizar um dia de estudo com um passeio perto do ar mais puro. 

Hoje, quase a terminar o meu curso, retorno à biblioteca que sempre me acolheu para me preparar para um dos exames mais importantes da minha vida: prova de acesso à especialidade. Um exame que todos os médicos têm de fazer para entrar no internato médico. A prova é em novembro e por isso tenho de estudar durante o verão. Quando questiono sobre qual será o horário, dizem-me que devido à abertura das Bibliotecas de Praia, em julho e agosto, só estarão abertos das 9:00 ao 12:30 e das 14:00 às 17:30. Para além disto, descubro que em dias normais a cafetaria está fechada do 12:00 às 14:30/15:00 sem oferta de qualquer outro espaço para uma refeição ou um lanche rápido. 

A maioria das pessoas deve estar a ler este meu desabafo e a pensar que sou a única a importar-me com isto. Mas não. Uma das funcionárias da biblioteca confirmou-me que quem mais usa este espaço são estudantes de todas as faixas etárias. Quem requisita livros apenas os vem buscar à biblioteca e leva-os para casa. Se são os estudantes que dão vida à biblioteca municipal, porque não adaptar as condições aos mesmos? Em julho e agosto ainda existem exames nacionais e exames da faculdade, mas as condições deixam de ser as mesmas. Adicionalmente, como é sabido, em épocas de exame, o estudo é diário. Para quem quer ir todos os dias estudar para a biblioteca e não tem casa perto, fica dispendioso e pouco saudável ir almoçar todos os dias aos cafés da área circundante. E, para mal do meu vício e dos mais esquecidos, nem uma máquina de café e outra com garrafas de água e snacks tem. 

Escrevo este texto para trazer o assunto a debate. Para relembrar que para combater desigualdades, o acesso à educação é fundamental e ter acesso à educação é também ter acesso a um lugar para estudar com boas condições. Esta é a realidade da biblioteca que frequento e sou eu que assino o texto, mas prevejo que muitos outros estudantes se possam identificar com situação que descrevo. Não só os que utilizam a biblioteca da Póvoa de Varzim, mas os que como eu vivem longe da faculdade ou de uma cidade com espaços de estudo e para os quais a biblioteca municipal é o único espaço adequado para estudar. Ou até aqueles que não têm no seu município um único local de estudo. 

Vamos falar em mudança agora ou deixamos isso para as eleições autárquicas de 2025?

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