Paranóia ou realidade? “Homecoming”. Nova série de Sam Esmail, criador de “Mr Robot”
Chama-se “Homecoming” tem 10 episódios e pode ser vista na integra na Amazon Prime Video.
A nova série de Sam Esmail, criador de “Mr Robot”, é baseada num famoso podcast, esta série conta no seu elenco com Julia Roberts, Bobby Cannavale, Sissy Spacek, Stephan James e Shea Whigham.
Há uma certa identidade comum em todas as obras de Sam Esmail. Além da sua abordagem ser sempre algo obsessiva e paranóica, tanto de um ponto de vista técnico (planos, música, montagem), como de um ponto de vista argumentativo (histórias em paralelo, personagens emocionalmente frágeis, narrativa cruzada). Esta sua identidade é algo que o caracteriza, tanto na sua curta de 2004, “Deep Down in Florida”, como na sua única longa metragem, “Comet”, embora nesta última obra o tema seja algo diferente de todos os outros.
Não há dúvida de que é a enorme capacidade técnica de Esmail que eleva as suas obras a um patamar superior. Porém, a sua capacidade em explorar ao máximo os seus personagens é também uma arte que domina e que tem que ser considerada. Julia Roberts é a actriz principal desta série, e apesar de não necessitar de apresentações, pois tem uma longa carreira marcada pelo sucesso, a capacidade como transforma a sua personagem obsessiva em algo mais além, através de pequenos gestos e movimentos, é extraordinária. Bobby Cannavale, que também trabalhou com Esmail em Mr Robot, é outro dos actores em destaque, embora a sua personagem seja mais complexa que Irving (o seu personagem em Mr Robot), carece de algum dinamismo e por vezes a sua interpretação torna-se repetitiva.
De forma resumida, “Homecoming” aborda o dia a dia de Heidi (Julia Roberts), que trabalha num complexo militar secreto que acolhe os soldados americanos vindos da guerra e os prepara para a integração na sociedade. Através dos dez episódios de apenas trinta minutos cada, Heidi vai chocando com o seu chefe Collin (Bobby Cannavale), com a sua mãe (Sissy Spacek) e iniciando uma ligação com Walter Cruz (Stephan James), o soldado principal da narrativa. No meio de bastante paranóia, obsessão e mistério, Heidi vai descobrindo factos escondidos e desenvolvendo os seus medos. Em paralelo seguimos a personagem de Julia Roberts do presente, isto porque Esmail gosta de brincar com linhas temporais e ao longo dos dez episódios conduz-nos intermitentemente através de duas linhas temporais onde todos os personagens se cruzam. A Heidi do presente trabalha numa cafetaria, num local distante, e vive com a sua mãe.
Além do cruzar narrativo e temporal, Esmail brinca também com a imagem, com a dimensão dos seus planos. Enquanto o passado é filmado a 16:9, o presente apresenta um corte lateral no “aspect ratio”, parecendo que estamos a assistir a um vídeo num qualquer smartphone, numa imagem em 4:3. Este aspecto técnico cruza-se com a narrativa a determinado momento, culminando num momento incrível na história das séries e anunciando de forma inteligente a passagem entre as diferentes linhas temporais.
O facto de algumas séries estarem a chegar a um patamar praticamente superior a vários filmes é graças a pessoas como Sam Esmail, que brinca, destrói e constrói de novo narrativas já exploradas, elevando a técnica e os seus personagens a outras dimensões. “Homecoming” é mais uma lufada de ar fresco num universo cada vez mais similar ao do cinema.