Paula Rego, Adriana Varejão e Carlos Bunga em destaque na programação do Centro de Arte Moderna em 2025
Uma exposição inédita que junta Paula Rego e Adriana Varejão, e outra que põe em diálogo novas criações de Carlos Bunga com obras da coleção do Centro de Arte Moderna são alguns destaques da programação da Gulbenkian para 2025.
A programação do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ontem divulgada, põe igualmente em foco a arte britânica, numa exposição que junta obras da Coleção do CAM e da Coleção Berardo, na galeria principal da sede da Fundação.
“Paula Rego e Adriana Varejão. Entre os vossos dentes” é título da exposição, criado a partir de um poema de Hilda Hilst, que “junta num diálogo inédito” obras da artista portuguesa Paula Rego (1935-2022) e da artista plástica contemporânea brasileira Adriana Varejão (1964).
Com curadoria de Adriana Varejão, Helena de Freitas e Victor Gorgulho, a mostra vai estar patente ao público entre 11 abril e 15 setembro, e reúne cerca de oito dezenas de obras, valorizando as linhas comuns de trabalho das artistas, em que a violência está presente, quer no campo político, quer na esfera privada.
O ponto de partida é a pintura “A Primeira Missa no Brasil”, de Paula Rego, uma obra realizada em 1993, raramente exibida, pertencente a uma coleção particular inglesa, para depois seguir uma linha expositiva que reinterpreta as dinâmicas de poder de duas gerações, incidindo em particular na história das mulheres em geografias diferentes.
Quanto à exposição “Carlos Bunga. Habitar a Contradição”, patente de 31 outubro a 30 março de 2026, com curadoria de Rui Mateus Amaral, será uma das “mais complexas e pessoais” do artista, partindo do desenho “A minha primeira casa era uma mulher, 1975: A minha mãe”, de 2018, que representa a mãe do artista: uma figura grávida com uma casa rudimentar na cabeça, a revista Portugal Colonial sob o braço, numa referência ao trabalho forçado, mãos e pés na indefinição entre humano e animal, e a barriga como único espaço protegido, perante a violência exterior.
“O artista criará uma instalação de cartão ‘site-specific’, a maior realizada até à data em Portugal, que evoca as arestas arredondadas e as formas orgânicas do mundo natural”, incorporando obras da coleção do CAM, com materiais de arquivo, livros de artista, performances e objetos de exposição, adianta a Gulbenkian.
Depois de Leonor Antunes, Carlos Bunga será o segundo artista com “carta branca” a ocupar a Nave e a criar novas narrativas a partir da Coleção do CAM.
Atualmente a viver e a trabalhar em Barcelona, o trabalho de Carlos Bunga (1976) questiona a fragilidade da existência humana e material, através das suas instalações a partir de materiais efémeros que evocam resiliência.
A partir de 14 de março, e até 21 de julho, a mostra “Arte Britânica. Ponto de Fuga” reúne um importante núcleo de obras de arte britânica da Coleção do CAM e da Coleção Berardo, que mostra o impacto de artistas de diferentes geografias na configuração da arte do Reino Unido no século XX.
Trata-se de um trabalho conjunto das curadoras Ana Vasconcelos (CAM) e Rita Lougares (Coleção Berardo), com coordenação científica de Sarah MacDougall, da Ben Uri Foundation, em Londres, que apresenta mais de 100 obras, entre as quais se incluem peças da autoria de Anthony Gormley, Bridget Riley, David Bomberg, David Hockney, Francis Bacon, Frank Auerbach e Rachel Whiteread.
A exposição apresenta ainda um conjunto de artistas nacionais que procuraram formação e, nalguns casos, fixaram residência em Londres, como é o caso de Paula Rego, Bartolomeu Cid dos Santos, Menez, Eduardo Batarda, Fernando Calhau, Graça Pereira Coutinho, João Penalva e Rui Sanches.
Os outros espaços expositivos do CAM vão receber ao longo do ano outros artistas convidados a apresentar os seus projetos, como é o caso de Julianknxx, Zineb Sedira, Diana Policarpo, Mikhail Karikis, Tristany Mundu e Francisca Rocha Gonçalves.
“Coro em Memória de um Voo”, de Julianknxx, resulta das colaborações criativas que o artista serra-leonês desenvolveu em nove cidades europeias, onde recolheu histórias não contadas da diáspora africana, reunidas depois numa instalação audiovisual que oferece o canto e a música como forma de resistência.
A exposição da artista franco-argelina Zineb Sedira parte de uma reflexão em torno das utopias dos anos de 1960, no contexto das novas independências e das lutas de libertação africanas, colocando lado a lado cultura e resistência.
Diana Policarpo propõe uma instalação de grande escala, intitulada “Ciguatera”, que partiu de uma viagem de investigação às Ilhas Selvagens e se inspira tanto na ciência como na ficção científica para criar narrativas que são simultaneamente factuais e fictícias, criando um ambiente visual e sonoro envolvente.
“Sons de uma revolução” é o trabalho do artista greco-britânico residente em Lisboa Mikhail Karikis, que trabalha com imagens em movimento, som, performance e outros meios de expressão artística, e que resulta numa instalação audiovisual.
O músico e produtor português de ascendência angolana Tristany Mundu vai ter patente a exposição “Cidade à Volta da Cidade”, encomendada pelo CAM, que funde o real com o surreal, através de uma tripla projeção e de um conjunto de peças têxteis a que chama “bandeiras”, explorando visualidades distintas, marcadas por cores e simbolismos fortes, que refletem a riqueza cultural da cidade em constante movimento.
Francisca Rocha Gonçalves, artista interdisciplinar e investigadora que vive em Berlim, com formação em ciências biológicas e media digitais, é outra das convidadas a expor os seus projetos, que aliam tecnologia, ecologia e expressão plástica, para explorar paisagens sonoras subaquáticas.
A mostra que vai levar até ao CAM, “Interferências no Tejo”, consiste numa instalação sonora imersiva que captura as características acústicas e vibracionais do ambiente subaquático do rio Tejo, onde os sons das espécies se misturam com ruídos produzidos pelo homem, com o objetivo de sensibilizar para a necessidade de proteger as espécies locais e ampliar as zonas de proteção sonora.
No âmbito do Programa Gulbenkian Cultura, está prevista, a partir de novembro, uma exposição que lança um olhar sobre os encontros e desencontros entre Brasil e Portugal, através de obras de arte, vídeos, peças musicais e documentos.
“Experimento Brasil”, título ainda provisório desta exposição, que tem curadoria de José Miguel Wisnik, Millena Brito e Guilherme Wisnik, procura problematizar as relações seculares entre Brasil e Portugal, promovendo um contexto de diálogo entre estes dois países, muitas vezes definido por um desconhecimento mútuo.
Esta mostra, com cenografia de Daniela Thomas, propõe uma travessia de experiências que pretende dissolver estereótipos e abrir novas perspetivas de entendimento, e é acompanhada por uma publicação e um programa de atividades paralelas, no qual se incluirá um concerto da Orquestra Gulbenkian dedicado ao Brasil.