Paulo Almeida: ‘Quem paga bilhete para me ver sabe que faço muito mais que contar piadas de humor negro’
Chama-se Paulo Almeida e aos 36 anos prepara-se para ter o seu primeiro especial de stand-up comedy televisionado, “Ponto Final.”. Já foi o Grozny do Curto Circuito, trabalhou ao lado de Rui Sinel de Cordes em palco, no solo “Isto era para ser com o Sasseti” e fora dele, em conjunto com Manuel Cardoso e Rui Cruz, escrevendo o programa “Very Tipical”. A sua carreira está intrinsecamente ligada ao género de humor que mais “comichões” traz à sociedade: o humor negro. Com textos novos na bagagem prepara-se para fazer a mini-tour das Comedy Sessions na próxima semana em Leiria, Coimbra, Braga, Guimarães e Aveiro. Fomos conhecer melhor o “psicopata fofinho” do humor português.
Ainda te lembras da primeira vez que atuaste? Como correu?
Sim, lembro. Foi no dia 21 de Dezembro de 2004, num espectáculo organizado pelo Fernando Alvim no Santiago Alquimista, em Lisboa. Como qualquer primeira vez, não sabia muito bem o que estava a fazer e só durou 5 minutos. Felizmente não correu assim tão mal e deixou-me o bichinho de querer voltar a fazer.
Como é que começaste a carreira? Qual foi o clique para te dedicares ao humor?
Começou um pouco por acaso. Nos tempos em que o Curto-Circuito tinha apresentadores como o Alvim, o Unas e o Bruno Nogueira, eu e muita malta da minha geração, adorávamos aquele programa e num belo dia, não sei muito bem porquê, decidi ligar para lá e imitar um emigrante ucraniano a quem dei o nome de Grozny. Criei toda uma história de vida para ele e aquele telefonema originou outros. Aquilo foi correndo tão bem que às tantas já não era eu que ligava para lá mas sim a produção que ligava para mim. Uma coisa foi levando a outras e um dia o Alvim ligou-me para escrever umas coisas para ele na Antena 3. Uns meses depois recebi também o convite da produção do CC para ter a minha própria rubrica no programa. O passo para o stand-up e para o guionismo foi uma coisa natural.
Gravaste o teu primeiro especial de stand-up “Ponto Final.”, que vai passar brevemente na SIC Radical, para celebrar os teus primeiros 10 anos de carreira. Como é que foram estes anos?
Esses 10 anos não foram totalmente dedicados à comédia. Trabalhei noutras coisas enquanto me dedicava à comédia em part-time e explico isso tudo no “Ponto Final”. Só há 4 anos é que me dedico em exclusivo ao que mais gosto de fazer. E felizmente as coisas têm corrido bem.
O espetáculo foi gravado no GrETUA em Aveiro. Porquê gravar fora de Lisboa e, especialmente, em Aveiro?
Tenho uma relação especial com o público no Norte, especialmente com o do Porto e de Aveiro, por isso para mim, quando decidi gravar o espectáculo, sempre quis fazê-lo numa destas cidades. Andava à procura de uma sala que tivesse as características de um comedy club americano por isso quando conheci a sala aquando da minha passagem por lá com “Overdose de Tourette”, a escolha tornou-se fácil.
Como é que correu a gravação? Foi fácil vender o produto final?
Correu super bem. Contei com o apoio do Bernardo Limas na produção e realização e como já tinha trabalhado com ele antes, sabia com o que é que eu poderia contar. Depois de ver o produto final comprovou-se que tinha feito a escolha certa ao decidir trabalhar com ele. Foi fácil vender o produto final, porque como irão ter a oportunidade de ver, ficou com uma qualidade incrível e o espectáculo em si ficou muito forte. Foi uma ótima noite de stand-up e ainda bem que ficou gravada para todos poderem ver.
Estás associado ao humor negro. Este rótulo é pesado. Achas que dizer “humor negro” é a melhor forma de catalogar aquilo que fazes?
É apenas um rótulo. Não gosto de catalogar o humor com cores mas compreendo que seja mais fácil para algumas pessoas, sobretudo produtores, venderem o meu produto assim. Quem paga bilhete para me ver ao vivo sabe que eu faço muito mais que “contar piadas de humor negro” e que tento proporcionar um espetáculo o mais variado possível.
Porquê este género de humor e não outro?
Eu falo sobre aquilo que me faz rir. Esta é sempre a minha regra para escrever ou contar uma piada e o humor “mais agressivo” sempre foi aquele que mais me fez rir.
O que é que tem limites: o humor ou o sentido de humor?
Nenhum deveria ter, mas infelizmente há cada vez mais pessoas que tentam impor limites a ambos.
Para uma piada de humor negro ser boa e resultar o que é que tem de ter? Qual é a grande diferença entre ser grosseiro e fazer bom humor negro?
Ter piada. Não há um ingrediente secreto. O objetivo de uma piada é fazer rir. Ponto. Não vale a pena estar aqui com grandes teorias sobre como escrever humor ou como estar em palco. Se queres trabalhar no humor tens de ter piada. Há pessoas que usam simplesmente o “ser grosseiro” para ter piada. Pessoalmente não gosto disso. Mas se têm público, força. Há espaço para todos. O público depois acaba sempre por fazer a sua triagem.
As salas de espetáculos estão mais recetivas ao stand-up comedy em geral ou esta vertente artística é olhada de lado pelos programadores?
Na grande maioria, estão cada vez mais recetivas ao stand-up, mas infelizmente ainda existem alguns velhos do restelo que acham que o stand-up é uma arte menor que não merece “pisar” os mesmos palcos que atores e as suas peças de teatro. Esses mesmos velhos do restelo são as mesmas pessoas que preferem ter salas vazias em espetáculos pseudo-intelectuais e queixar-se de falta de fundos e apoios do Estado do que ter a sala esgotada com um espectáculo de stand-up comedy que o público quer realmente ver.
Onde é que é melhor fazer stand-up comedy, em auditórios ou em bares? Qual é a grande diferença?
Ambos os sítios são bons desde que haja condições para o fazer. As condições técnicas são a principal diferença. Muitas vezes num bar não consegues ter o som ou a luz que terias num teatro, mas a proximidade com o público consegue compensar isso. Os bares são ótimos para testar material por exemplo, pela proximidade com o público e pelo ambiente em si. Se uma piada funciona num bar, rebenta sempre num auditório.
E qual é a diferença entre o humor que se produz para as plataformas e o humor que se faz em palco?
O humor que se faz em palco não precisa de ter filtros. Hoje em dia há temas ou simplesmente palavras que se forem usadas numa plataforma online, dão automaticamente lugar a protestos numa caixa de comentários ou a bloqueios de dias nas redes sociais. Num palco podes dizer o que quiseres sem teres problemas porque as pessoas que estão ali à tua frente pagaram bilhete precisamente para isso.
Vais fazer uma mini tour de stand-up nas Comedy Sessions, uma marca que está no mercado para que os humoristas testem os textos novos em bares. Qual é a importância deste conceito para o humor em Portugal?
É muito importante. Apesar do stand-up estar a crescer em Portugal, ainda não há propriamente um circuito de bares como existe nos países anglo-saxónicos. E as Comedy Sessions estão a afirmar-se precisamente por isso. Qualquer comediante que faça tours de auditórios te dirá o mesmo. Mais do que importante, é vital que este circuito floresça até porque é também uma das formas de descentralizar muitas vezes estes espetáculos e de conquistar novos públicos.
Não há o receio de perder público que possa vir a estar nas salas de espetáculos, tendo em conta a dimensão de Portugal?
Não tenho qualquer receio. Antes pelo contrário. Como estes shows têm sempre mais do que um comediante no cartaz, também ajudam a ganhar público que não nos conhece e como as atuações são normalmente de 30 minutos, as pessoas ficam só com um aperitivo do que podem ver no espetáculo a solo de 1h15.
O que é que o público pode esperar de ti nas Comedy Sessions?
Texto 100% novo que foi escrito de propósito para esta tour, ou seja, estórias que me aconteceram no último ano e as minhas irritações com o mundo atual.
Já tens projetos para o futuro?
Até ao final do ano, para além do “Ponto Final”, também vou disponibilizar para o público outro espetáculo a solo com material diferente (ainda não posso é dizer onde nem quando). Também estou a preparar o meu novo solo, um podcast e outros miminhos que revelarei a seu tempo. Vão passando pelas minhas redes sociais e pelo meu site (www.pauloalmeida.net) para saberem tudo.
Paulo Almeida junta-se a Rui Cruz e a Luís Gomes para as Comedy Sessions do mês de junho. A mini-tour vai passar em Leiria, dia 10 de junho, em Coimbra, dia 13, em Braga, dia 14, em Guimarães, dia 15, e em Aveiro, dia 16. Os bilhetes estão disponíveis por reserva através de mensagem privada para o facebook das Comedy Sessions, do email reservas@comedysessions.pt ou dos números de telemóvel indicados na página das Comedy Sessions e têm o custo de 7€.