Peça de teatro “descobri-quê?” faz reflexão sobre ensino dos Descobrimentos
A peça de teatro “descobri-quê?” estreia-se no próximo dia 17 em Paredes de Coura (Viana do Castelo) e traz a palco uma reflexão sobre como é lecionado nas escolas portuguesas o período da História designada por “Descobrimentos”.
“Esta peça é uma tentativa de problematizar os conteúdos dos manuais escolares de História sobre esse período histórico designado como ‘Descobrimentos’, normalmente escrito com a letra D em maiúsculo, para exacerbar o acontecimento e que nós, no próprio título do espetáculo, escrevemos com minúscula, precisamente para lhe (…) retirar importância”, avançou à agência Lusa José Nunes, da companhia Estrutura (com Cátia Pinheiro), durante o ensaio de imprensa que decorreu esta tarde no Teatro do Campo Alegre, no Porto.
Os atores Joyce Souza, Tiago Jácome e Waldju Condo aparecem em palco como se fossem extraterrestres, vestidos com fatos brancos, usando máscaras de metal e lanternas acesas com uma cor roxa, como se estivessem à procura de algo na terra onde acabaram de chegar. Na tela digital ao fundo do palco pode ler-se que o “encontro com os locais foi amistoso”.
O rumo da peça é quebrado quando os intérpretes despem os fatos brancos e começam a criticar a “era dos descobrimentos”, classificando esse período da História de Portugal como “a era dos encobrimentos”, pelas matanças, pilhagens, tráficos, que identificam na “era da escravidão”.
“Além dos atos quotidianos, da relação colonial, e como isso está implicado na forma como vemos o outro, na forma como vemos o mundo“, há ainda, “e sobretudo, [o objetivo de] pensar na ideia de como descolonizar a linguagem, (…) confrontando palavras do dia-a-dia que têm conotação racista, mas também palavras que têm um peso histórico como o ‘Holocausto’, com H maiúsculo, e ‘escravatura’, com E minúsculo”, acrescentou Dori Nigro, artista, performer, arte-educador e cocriador da peça teatral, em colaboração com a companhia Estrutura.
“descobri-quê?” é um espetáculo que pretende contribuir para a “descolonização, enquanto gesto inacabado, portanto constante e continuado, do ensino do período histórico designado como descobrimentos, quebrando uma série de narrativas oficiais que romantizam esta época e procurando uma confrontação com o passado invasor, expansionista e colonialista português”, lê-se no dossiê de imprensa.
Destinado ao público juvenil dos 10 aos 15 anos, “descobri-quê?” resulta da colaboração dos criadores da companhia Estrutura (Cátia Pinheiro e José Nunes), com o artista, performer e arte-educador Dori Nigro, e tem estreia marcada para o próximo dia 17 de março, no Centro Cultural de Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, no âmbito da “Odisseia Nacional”, do Teatro Nacional D. Maria II, projeto que atravessa todo o país, e que vai levar a peça a cerca de uma dezena e meia de concelhos, de Paredes de Coura e de Chaves, no Norte, a Olhão, no Sul, e à Calheta, na Madeira.
Depois da estreia, no dia 17 de março, em Paredes de Coura, o espetáculo “descobri-quê?” segue para Vinhais, no distrito de Bragança, nos dias 30 de março e 1 de abril, seguindo-se depois localidades como Santa Comba Dão, Albergaria-a-Velha, Seia, Ovar, Leiria, Reguengos de Monsaraz, Ourique, Barrancos, Silves e Chaves, num calendário que se estende até ao fim do ano.
O peça de teatro está integrada na programação da “Odisseia Nacional” do Nacional D. Maria II, um projeto composto por centenas de propostas artísticas, que vão passar por 93 concelhos de todas as regiões de Portugal continental e ilhas, ao longo deste ano.
Além do espetáculo, serão ainda desenvolvidas ações de formação para alunos do ensino secundário e para o público em geral, em diferentes concelhos do país.