Perde a cultura, perde o país

A decisão de Luís Montenegro em fundir a Cultura com a Juventude e com o Desporto não é apenas um gesto simbólico: é um sinal claro de que a Cultura continua a ser tratada como um setor secundário em Portugal. A junção com o Desporto é irónica: não será mais um pontapé para fora do campo?
Todos sabemos que a Cultura em Portugal vive, há muitos anos, em precariedade. A começar por quem trabalha nas artes, os atores, músicos, escritores, que conhecem de perto a instabilidade diária, os falsos recibos verdes, em suma, a ausência de proteção social.
O escasso financiamento público, o subinvestimento crónico e a fragilidade estrutural do setor são problemas antigos. Sempre denunciados por muitos na sociedade mas nunca corrigidos. E agora, com a extinção de um Ministério da Cultura autónomo, não há margem para dúvidas: é uma escolha deliberada da direita. É uma decisão política que reduz a Cultura a uma insignificância institucional.
Esta fusão não é racional, nem serve qualquer desígnio de eficiência. Serve antes um propósito ideológico, que a direita nos tem habituado: diminuir o papel da Cultura enquanto espaço de pensamento crítico em liberdade.
Vivemos num país extraordinariamente rico do ponto de vista cultural. Desde o património material até à criação contemporânea. A Cultura sempre foi um ativo nacional e uma base essencial para uma sociedade consciente de si mesma e desenvolvida na sua capacidade de pensamento crítico. Ora, um país que marginaliza a sua Cultura, deixando a fora da lista de convocados, é um país que não quer investir em si próprio, e que em última análise, empobrece a democracia.