Petição contra nome de Cardeal Dom Manuel Clemente em nova ponte ciclopedonal já pode ser debatida na AR

por Lusa,    13 Agosto, 2023
Petição contra nome de Cardeal Dom Manuel Clemente em nova ponte ciclopedonal já pode ser debatida na AR
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A petição que contesta o nome da ponte ciclopedonal Cardeal Dom Manuel Clemente, entre Lisboa e Loures, já recolheu mais de 8.900 assinaturas e poderá ser debatida no plenário da Assembleia da República.

A adesão crescente à petição “não surpreende”, disse hoje à Lusa Tiago Rolino, um dos promotores da iniciativa que tem como objetivo levar a debate na Assembleia da República a decisão da câmara da capital de dar o nome do cardeal-patriarca Manuel Clemente à nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures e que foi construída no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

A homenagem ao cardeal é contestada pelos promotores da petição pública, que consideram uma ofensa ao bom nome das vítimas de abusos sexuais pela Igreja Católica, que a comissão independente que estudou os abusos estimou serem cerca de 4.800.

Em menos de 24 horas, o número de subscritores da petição pública passou de cerca de 1.000, no sábado ao final da tarde, para mais 8.900, pelas 19:40 de hoje.

“Não estamos surpreendidos com o alcance, porque sabemos que é uma luta justa, que não é pessoal, não é contra ninguém, mas é de proteção do bom nome das vítimas. É uma luta justa de toda a gente”, disse Tiago Rolino.

No dia em que o Jornal de Notícias revelou que 93% dos contratos da JMJ foram feitos por ajuste direto, o promotor da petição pública acusou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), de querer fazer “um ajuste direto de imagem e afirmação política” às custas de uma infraestrutura que liga dois concelhos e do nome das vítimas de abusos pela Igreja Católica.

“Não estamos surpreendidos com a adesão, porque a sociedade percebeu a importância destes movimentos. É uma causa de proteção dos mais elementares direitos humanos. Carlos Moedas quis fazer aqui um ajuste direto de imagem e afirmação política”, afirmou.

Intitulada “Petição pela alteração do nome previsto para a ponte Lisboa/Loures no Parque Tejo”, a petição foi lançada no sábado através da rede social X (antigo Twitter) por Telma Tavares, autora dos cartazes em memória das vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica que foram colocados em Lisboa, Loures e Algés durante a JMJ, que decorreu no início do mês.

Na petição é invocada “a suposta laicidade do Estado” e questionado se a atribuição do nome de Manuel Clemente à ponte “pode ser vista até como uma ofensa e/ou desrespeito pelas mais de 4800 vítimas de abuso sexual por parte da igreja em Portugal”.

“Sendo a ponte um dos equipamentos que foi pago com recurso a dinheiros públicos, que todos os portugueses irão pagar com assinalável esforço, o mínimo exigível será que se homenageie quem tenha factualmente marcado a diferença ou sido autor de feitos que mereçam destaque no nosso município”, lê-se no texto.

A petição é dirigida à câmara de Lisboa, mas tendo já recolhido mais de 7.500 assinaturas poderá ser apreciada pelos deputados em plenário da Assembleia da República.

Na sexta-feira, a Câmara Municipal de Lisboa anunciou que a nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures, sobre o rio Trancão, na zona oriental da cidade, vai chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente. 

“É uma justa homenagem da cidade a um homem que deu tanto a Lisboa ao longo da sua vida”, afirmou Carlos Moedas, citado num comunicado da autarquia.

Numa mensagem enviada à Lusa, Manuel Clemente agradeceu “a generosidade” do município e disse incluir no seu nome “todos quantos trabalharam na Jornada Mundial da Juventude”.

Segundo a câmara de Lisboa, o nome da ponte foi comunicado ao presidente da autarquia de Loures, Ricardo Leão (PS), que considerou tratar-se de “uma boa opção e um justo reconhecimento”.

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