Plano Nacional das Artes quer tornar a escola um polo cultural
O Plano Nacional das Artes, promovido pelos ministérios da Cultura e da Educação, propõe tornar “a escola um polo cultural” e cada “instituição cultural um território educativo”, disse hoje o seu comissário, Paulo Pires do Vale.
Paulo Pires falava hoje à tarde, em Lisboa, na apresentação do PNA, na presença dos dois ministros, da Cultura e da Educação, respetivamente Pedro Adão e Silva e João Costa, e realçou que o plano visa a “criação de novas centralidades”.
O tema da Bienal Cultura Educação, no âmbito do PNA, que decorre a partir deste mês até junho, é “Retrovisor: Uma história de Futuro”, na medida em que pretende incluir experiências anteriores neste domínio. “Nós não inventámos a roda, há uma história antes de nós”, disse Paulo Pires do Vale.
O PNA tem um orçamento anual de um milhão de euros, inscrito no Orçamento do Estado, repartido pelos dois ministérios.
Em termos de números, a Bienal conta com a adesão de 414 agrupamentos escolares e 332 projetos, “atá à data”, e a presença de 92 artistas nas escolas, neste ano letivo, e 440 parceiros.
A Bienal foi apresentada por Pires do Vale como uma iniciativa “com os jovens e não para os jovens”, referindo que se pretende que “cada estudante seja um agente cultural na sua comunidade”.
A programação da bienal, que acontece em todo o país, inclui exposições, espetáculos, concertos, visitas, conferências, oficinas, visando “valorizar a criação e a programação para a infância e a juventude, os artistas, os professores e os mediadores, quer nas instituições culturais, quer nas educativas”.
A Bienal é “uma festa no país inteiro”, disse Pires do Vale.
O Plano começou a ser preparado há quatro anos, tendo realizado, no último ano, sete encontros preparativos.
Paulo Pires do Vale salientou que a Bienal visa desenvolver “processos com as comunidades e os territórios” e promover a criação, produção, o acesso e a mediação das artes e do património para e com jovens e crianças, mas também é dirigida aos professores, pais, mediadores e profissionais do setor cultural e educativo.
Pires do Vale frisou: “As artes não são um adereço, mas ‘intestina’ às comunidades e à vida de cada um e de cada uma”.
Na sessão de hoje participou Maria Leitão, aluna do agrupamento de escolas Rafael Bordalo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, que afirmou o seu contentamento e dos colegas, pela iniciativa, pois tinha-lhe permitido expressar e sentir-se sem obrigações, e até a socializar, de “criar sem ser julgada”.
O ministro da Educação, João Costa, citou a jovem aluna afirmando que era uma inspiração pois “criar sem ser julgado” é um princípio da liberdade.
O PNA vai ao encontro de uma reforma no ensino, encetada na legislatura anterior, que “assenta em três fundamentos: sucesso, inclusão e cidadania”.
O governante esclareceu que o “sucesso” deve ser entendido como “o desenvolvimento integral dos alunos”, o que implica “o desenvolvimento da sensibilidade artística”.
O ministro disse que o Plano dá “mais vontade [aos alunos] de ir à escola”, que viu “os olhos deles a brilhar” por terem atividades culturais, e rematou: “O PNA é um espaço de felicidade”.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, por seu turno, reconheceu que “há muitas barreiras no acesso à cultura, o que diz muito do nosso potencial cultural”, o que “nos diminui enquanto cidadãos” e “ao país do ponto de vista de desenvolvimento”.
Adão e Silva defendeu a necessidade de uma aprendizagem cultural. “Ninguém gosta de ópera sem ir à ópera”, e alvitrou que “talvez o ‘rap’ e o ‘hip-hop’ devam ir às escolas para os jovens gostarem de ópera”.
“A cultura dá-nos prazer, mas implica aprendizagem, e contrariar as desigualdades”, afirmou.
Adão e Silva referiu-se às desigualdades, não só socioeconómicas mas também territoriais, para afirmar que o acesso à cultura ajuda a ultrapassá-las.