“Please Save My Earth”, obra de culto da animação japonesa
A animação japonesa é um mundo infinito, mais propriamente o anime. Esse estilo tão próprio tem influenciado diversas obras ao longo dos anos, desde filmes a literatura americana. Um dos grandes contributos para essa expansão é o facto da animação japonesa ter um estilo próprio, mas um conceito criativo infinito, não se prendendo em barreiras culturais. É quase impossível não termos sido influenciados por algumas destas obras, tenha sido Dragon Ball, Shin Chan, Sailor Moon, Doraemon ou Naruto, mas a verdade é que há muito mais do que apenas as grandes criações comerciais dentro do universo anime.
Estamos em 2018 e há algo que ainda nos agarra em “Please Save My Earth”, a mini-série de animação japonesa de culto de 1993, baseada no manga da artista Saki Hiwatari.
Antes de Trigun explorar o conceito de fim da humanidade e exploração espacial como meio de salvação, já “Please Save My Earth” nos brindava com este tópico de forma ainda mais profunda. Além do tema de holocausto, a obra explora também a complexidade do tema da reencarnação e imortalidade da alma. É este o tema principal da série, mas é também o seu ponto fraco.
Do ponto de vista argumental, “Please Save My Earth” é uma obra prima. A história centra-se em vários estudantes que começam a ter sonhos sobre outros seres do passado, como se eles próprios tivessem sido esses seres. Ao cruzarem-se, percebem que há algo mais do que apenas a ilusão do sonho nesta teia, existe também a realidade e confirmação de que, nas suas vidas passadas, eles foram mesmo outras pessoas que um dia lutaram pela salvação da terra através do espaço.
Além de se debater com questões morais, filosóficas e religiosas (sem aprofundar o tema), “Please Save My Earth” debruça-se também sobre os conceitos de amor, amizade, ódio e vingança, e o quão profundos estes podem ser após séculos de distância.
A obra vai mais longe ao explorar um possível ‘romance’ entre um casal com 9 anos de diferença, sendo ambos menores de idade. Essa situação só existe devido ao facto de ambos serem uma reencarnação de outras pessoas e, deste modo, bem mais velhos do que os seus corpos do presente demonstram.
Toda a complexidade da obra presente no manga e o ‘passado’ dos exploradores espaciais é pouco abordada ao longo da série de animação, o que a torna menos consistente. Contudo, mesmo assim consegue criar momentos únicos, tanto do ponto de vista dos personagens do presente (os estudantes), como da importância da mortalidade nas nossas próprias vidas. Quantas vezes é que pensamos mesmo sobre ela? Até que ponto é que estamos conscientes de que estamos a percorrer uma rápida viagem por este mundo e que o tempo não é infinito? “Please Save My Earth” aborda todas estas temáticas e constrói questões na nossa cabeça, sem que responda às mesmas da melhor forma – para isso teremos que ler o manga.
Embora a série tenha um final algo abrupto e uma conclusão insatisfatória tendo em conta o tom e a velocidade da narrativa, há algo que permanece em nós além dessas ‘falhas’. As questões exploradas e o facto de, inicialmente, construir uma narrativa fantasiosa, mas ao mesmo tempo tão real, torna-nos próximos dos personagens e dos seus medos. Não é por acaso que continua a ser uma das mais importantes séries na animação japonesa, um pouco celebrada como culto, à sombra de outras grandes obras, mas mesmo assim uma viagem que vale a pena fazer, ao longo dos seus apenas seis episódios.