Pobreza afeta metade das crianças dos bairros sociais em França
Mais de metade das crianças dos chamados “bairros prioritários” franceses vive na pobreza, segundo os números deste ano do Instituto Nacional de Estatística de França (Insee), citados hoje pela AFP, numa “radiografia” aos subúrbios do país.
Os bairros sociais, designados como “bairros prioritários”, reúnem 5,2 milhões de habitantes, cerca de 8% da população francesa, indicam os números do Insee para 2023, citados hoje pela agência France-Presse (AFP), que recorda ainda dados anteriores à pandemia de covid-19, segundo os quais estas áreas urbanas apresentavam uma taxa de pobreza três vezes superior à média nacional.
A agência de notícias francesa divulgou hoje dados que definiu como “essenciais sobre estes bairros desfavorecidos”, na sequência da morte de Nahel M., de 17 anos, alvejado por um polícia na passada terça-feira, e dos tumultos que desde então se seguiram no país.
Segundo os números deste ano do Insee, 56,9% das crianças destes bairros vivem em situação de pobreza, por oposição a 21,2% na França continental.
Tendo em conta a população global dos “bairros periféricos”, escreve a AFP, mencionando ainda os dados do Insee, a taxa de pobreza, em 2019, era três vezes superior à do resto de França, com 43,3% dos residentes a viverem abaixo do limiar de pobreza, contra 14,5%, na França continental.
Os dados do desemprego do Insee para 2020 atribuem uma taxa de 18,6% entre a população dos “bairros periféricos”, por oposição à taxa nacional de 8%.
Em valores médios de 2020, o Insee colocava o rendimento anual dos agregados familiares destes bairros em 13.770 euros, enquanto nas “cidades vizinhas” subia para 21.730 euros.
De acordo com o Observatoire National de la Politique de la Ville, também citado pela AFP, um quarto dos habitantes destes bairros recebe rendimento social de inserção (RSA, Revenu de Solidarité Active), o dobro em relação ao resto de França continental.
Ainda segundo o Insee, em 2021, 23,6% dos habitantes dos “bairros prioritários” eram oriundos de outros países, um valor que descia para 10,3% no resto de França. Em Seine-Saint-Denis, subúrbio parisiense com alta densidade destes bairros, essa taxa atingia 30,9%, escreve ainda a AFP, citando o Insee.
A AFP recorda ainda o relatório de 2017 do Défenseur des Droits (Defensor de Direitos), que indicava que um jovem identificado como negro ou árabe tinha “20 vezes mais probabilidade de ser detido do que a população em geral”.
Em 2014, prossegue a AFP, o Governo francês contava a existência de 1.514 bairros sociais, conhecidos como Quartiers Prioritaires de la Politique de la Ville, tendo sido investidos perto de 12 mil milhões de euros, entre 2004 e 2020, em obras de recuperação, segundo a Agência Nacional de Renovação Urbana (ANRU).
Em 600 desses bairros, grandes blocos de apartamentos degradados foram demolidos e substituídos por edifícios mais baixos e mais abertos à zona envolvente.
Até 2030, o Governo francês planeia investir mais 12 mil milhões de euros nestes bairros, segundo a ANRU, citada pela AFP.