Portugal precisa de mais MIMO
A quarta edição portuguesa do Festival MIMO, em Amarante, chegou ao fim no passado Domingo. Ao longo dos três dias, como já é habitual no festival, a cidade foi pautada por música, cinema, workshops, fóruns de ideias, roteiros culturais, uma chuva de poesia e pela abertura de uma excelente exposição no Museu Amadeo de Souza Cardoso: “Abstração – Arte Partilhada” da Coleção Millennium BCP. A afluência – sempre consistente – bateu recordes este ano, com cerca de 80 mil pessoas a visitar o recinto no total dos dias. Contudo, no meio desta agitação cultural, a organização do festival ainda teve tempo para preparar uma novidade: a primeira edição do Prémio MIMO de Música – entregue a Chico da Tina, que atuou no segundo dia do Festival.
De sexta a domingo, o Parque Ribeirinho enchia ao ritmo do crepúsculo, e os festivaleiros começavam a preparação para os concertos que se avizinhavam. Em mais uma edição, o MIMO presenteou-nos com um cartaz versátil, de artistas consagrados e em ascensão, que trouxeram uma panóplia de músicas do mundo, já imagem do Festival. Houve espaço para tudo. Se por um lado os ritmos africanos de Salif Keita, Seun Kuti & Egypt80 ou Mayra Andrade libertaram as expressões corporais até dos mais tímidos, por outro, também houve espaço para mensagens políticas e humanitárias. No primeiro dia, a banda 47Soul aproveitou um momento para dedicar uma mensagem de apoio à Palestina, já que eles próprios são membros da diáspora palestiniana. Já no segundo dia – naquele que foi, para mim, o momento alto do festival – Criolo entrou em palco com um ritmo frenético e com mensagens de positividade, como: “A melhor arma de revolução é o amor!” ou “O seu corpo é um ato político. Então: dance, dance, dance!”; mas também com uma mensagem que deixa bem explícita a sua posição em relação ao atual Presidente do Brasil: ELE NÃO. Contudo, não houve, em nenhum momento, uma única expressão de desagrado por parte do público. Pelo contrário! Em todo o festival pareceu haver uma simbiose harmoniosa entre os artistas, a música, o público e a paisagem pitoresca que rodeava o recinto, que velejava através da brisa das correntes do Rio Tâmega.
Como disse Lu Araújo, diretora do festival, “O MIMO é positivo, inclusivo, democrático e abrangente”, e nele cabem todas as faixas etárias e os mais diferentes tipos de pessoas. Sendo de acesso gratuito, democratiza o acesso à cultura e ao mesmo tempo valoriza o Património da cidade de Amarante. Para além disso, é um exemplo de descentralização da valorização e dinamização cultural. Ao unir todos estes fatores, torna-se, sem dúvida, numa das iniciativas culturais mais interessantes do nosso país. É um modelo a seguir em todos os aspectos e precisamos tanto da sua continuidade, como de novos projetos semelhantes.
Antes do regresso a Amarante, o MIMO Festival realiza-se no Rio de Janeiro e em São Paulo no próximo mês de outubro, já que é um projeto que foi criado originalmente no Brasil, em 2004.
Pessoalmente foi a segunda edição que participei, mas admito que, na minha agenda, já está marcada a edição de 2020.