“Pray for Paris”, de Westside Gunn: das ruas de Buffalo aos luxos da capital francesa
Alvin Lamar Worthy, mais conhecido por Westside Gunn, é um rapper de Buffalo, Nova Iorque, fundador da produtora/coletivo Griselda Records, juntamente com o irmão, Conway the Machine, e o primo, Benny the Butcher. O trio começou a entrar nos radares do hip-hop nova-iorquino na segunda metade da década passada, lançando vários projetos em nome individual e coletivo, despertando o interesse das editoras Shady Records (Eminem) e Roc Nation (Jay-Z). O pináculo do sucesso do grupo foi alcançado com o lançamento do álbum WWCD, um dos grandes trabalhos de hip-hop americano de 2019.
Gunn tem uma entoação peculiar, nasalada e estridente, que inicialmente se estranha – como se estranhou Eazy-E, Ghostface Killah ou Danny Brown – mas que acaba por se tornar uma imagem de marca, num universo muitas vezes marcado pela monotonia dos timbres vocais. Pray for Paris é o terceiro álbum de estúdio do rapper e conta com as colaborações dos parceiros Conway the Machine e Benny the Butcher, bem como de Joey Bada$$, Tyler the Creator, Freddie Gibbs, Roc Marciano, entre outros. Já a produção instrumental ficou a cargo dos habituais Daringer e The Alchemist, complementada por vários nomes do mundo dos beats, incluindo alguns mais sonantes como DJ Premier e Tyler the Creator.
O novo álbum de Westside Gunn nasceu da inspiração provocada pela recente visita à capital francesa, no âmbito da Paris Fashion Week 2020, a convite de Virgil Abloh, diretor artístico da Louis Vuitton e CEO da Off-White. A vida luxuosa que encontrou contrasta vincadamente com o seu passado ligado ao tráfico de drogas, altura onde inclusivamente cumpriu pena de prisão, sendo este o principal fio condutor que atravessa o seu novo projeto.
Pray for Paris inicia com um trecho do leilão do quadro Salvator Mundi de Leonardo da Vinci, a pintura mais cara alguma vez leiloada, funcionando em jeito de anúncio da chegada da sua nova obra de arte. A partir daí Gunn navega por diversos registos, uma abordagem que diverge dos seus anteriores trabalhos. Por um lado encontramos a habitual produção hipnótica e sombria, garantida por Dalinger e The Alchemist, acompanhada de rimas sobre a vida de rua e repleta de braggadocio, em músicas como “George Bondo”, “Allah Sent Me” ou “$500 Ounces”. Por outro, “327” ou “French Toast”, mostram-nos uma faceta diferente do MC, instrumentais mais melódicos e menos crus, onde inclusivamente fala em se apaixonar em Paris.
Westside Gunn mostra letras mais consistentes do que nunca, com os seu habituais ad-libs de metralhadora, e as várias referências ao wrestling. O título de um dos pontos altos do álbum, “Shawn vs Flair”, música produzida pelo lendário DJ Premier, é um exemplo nesse sentido. A diversidade na abordagem temática e instrumental garantem a Pray for Paris uma camada extra de profundidade, sem perder coerência, um risco amplamente ganho pelo rapper. Os seus contos de violência das ruas, droga e prisão, junto às metáforas e hipérboles do luxo das marcas mais extravagantes e obras de arte mais memoráveis misturam-se para criar um trabalho sólido, que cimenta a reputação do membro da Griselda no panorama do hip-hop internacional.