Prazer, Camaradas, uma outra face da Revolução

por Linda Formiga,    20 Maio, 2021
<i>Prazer, Camaradas</i>, uma outra face da Revolução
Prazer, Camaradas
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O espaço que nos é apresentado em Prazer, Camaradas de José Filipe Costa é o actual, com as primeiras cenas a mostrarem-nos os nós de auto-estradas e vias rápidas construídas nos anos 90 ali na fronteira entre o Ribatejo e a Estremadura. O tempo de toda a cena remonta a 1975, um período tão confuso quanto as encruzilhadas das estradas. As personagens são interpretadas, na sua maioria, por actores amadores que viveram tanto os períodos conturbados do pós-25 de Abril como a construção das auto-estradas. Prazer, Camaradas, que estreia hoje nos cinemas, é um filme/documentário que fala da revolução sexual, mas não só.

Nos meses que se seguiram à Revolução, várias herdades foram ocupadas — por portugueses e estrangeiros — e os hábitos, tradições e mentalidades dos tempos de outrora foram sendo postos à prova e desafiados. Mas se até aos dias de hoje, a Revolução é maioritariamente relatada no masculino, com breves menções à submissão da mulher, ao papel secundário da mulher e à ausência de educação, Prazer, Camaradas pretende colocar a mulher no centro, falando-nos da revolução sexual, da descoberta do prazer, mas mostrando-nos também que a luta moderna pela igualdade de género tem poucas décadas. Prazer, Camaradas fala-nos da ausência de decisão e de prazer por parte da mulher nas relações, nas barreiras impostas pelas próprias mulheres e na dificuldade que existe em mudar o paradigma. O filme de José Filipe Costa fala-nos também dos primeiros passos, das primeiras aberturas, envergonhadas, dos risos tímidos quando se fala de sexo. Fala-nos da própria mentalidade masculina que reconhece a igualdade das mulheres, com a partilha de tarefas e igualdade, mas, transpondo para os dias de hoje, também nos relembra da desigualdade, que ainda persiste, entre homens e mulheres na sociedade actual.

Prazer, Camaradas

A acção em Prazer, Camaradas é passada entre sombras e nuances, num cenário adaptado para recriar o mundo de 1975, com o imaginário de bailes e mesas de café encostadas a paredes caiadas a marcar presença. Os muitos actores amadores que dão vida às personagens — e às suas próprias memórias — fazem-no com gosto e mestria, mas é nas reuniões onde parecem falar das suas próprias experiências — sem que estas estivessem presas a um guião — que se percebe a verdadeira dimensão da obra de José Filipe Costa. Estas experiências partilhadas e a fluidez com que a partilha ocorre compensa as partes escritas, que revelam o amadorismo da interpretação. Estas partes provocam alguma perda de velocidade na ação, mas são compensadas pela excelente fotografia e pela captação das emoções.

Prazer, Camaradas é um filme/documentário para nos fazer pensar, para reflectirmos sobre o peso da mentalidade de outrora no papel da mulher nos dias que correm. 

Prazer, Camaradas!, de José Filipe Costa — uma produção e distribuição Uma Pedra no Sapato — estreia dia 20 de Maio nas cidades portuguesas, nomeadamente, em Lisboa (Cinema City Alvalade, UCI El Corte Inglés), Porto (Cinema Trindade, UCI Arrábida 20), Braga (Cineplace Braga), Albufeira (Cineplace Algarve Shopping Albufeira), Coimbra (Cinema NOS Alma) e Setúbal (Cinema City Setúbal).

Há também diversas sessões especiais com a presença do realizador e de convidadas e convidados em Lisboa e no Porto:

Lisboa:
– Quinta, 20 de Maio, às 19:30 – Cinema City Alvalade
 – sessão com a presença do realizador e da equipa
– Sexta, 21 de Maio, às 17:45 – Cinema Nimas – sessão com a presença do realizador e de Ana Margarida de Carvalho (escritora e crítica de cinema)
– Sábado, 22 de maio, às 17:00, Cinema City Alvalade – sessão com a presença do realizador e de Isabel Freire (investigadora do ICS de História da Sexualidade), Patrícia Pascoal (investigadora, psicoterapeuta/sexóloga e presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica)
– Domingo, 23 de maio, às 20:00, Cinema Nimas – sessão com a presença de Leonor Rosas (activista e feminista, licenciada em ciência política e mestranda em antropologia)
– Quarta, 26 de maio, às 20:15, Cinema Nimas – sessão com a presença de Francisco Louçã (economista e professor)

Porto:
Domingo, 23 de maio, às 20:00 – Cinema Trindade – sessão com a presença do realizador e de Ricardo Vieira Lisboa (programador e crítico de cinema).

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