Produtoras portuguesas apresentam novos projectos em França e dizem que há talento e capacidade para fazer crescer a animação portuguesa

por Lusa,    11 Junho, 2024
Produtoras portuguesas apresentam novos projectos em França e dizem que há talento e capacidade para fazer crescer a animação portuguesa
Bruno Caetano / DR
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As produtoras portuguesas Cola Animation e AIM Creative Studios apresentaram hoje, no Festival de Cinema de Animação de Annecy (França), alguns dos projetos em curso, acreditando que há talento e capacidade para fazer crescer a animação portuguesa.

No ano em que Portugal é o país convidado do festival de Annecy, estas duas produtoras portuguesas puderam mostrar o portefólio criativo e explicar processos de trabalho, em rede com outros países. Na sessão estiveram, sobretudo, profissionais e estudantes de animação e por lá passou também o embaixador de Portugal em França, José Augusto Duarte.

Momentos antes da sessão, Vier Nev, artista multidisciplinar, e Bruno Caetano, produtor e realizador, ambos da cooperativa Cola Animation, contavam à agência Lusa que este destaque inédito em Annecy “é uma celebração máxima” daquilo que Portugal conseguiu fazer nas últimas décadas na animação.
“É uma celebração que todos nós apreciamos. Ao longo destas décadas houve um crescimento orgânico muito constante e muito qualitativo”, afirmou Bruno Caetano.

Entre os cerca de 20 projetos que a Cola Animation tem em mãos está a curta-metragem “A dança dos fanchonos”, de Vier Nev, em fase final de pré-produção, que será apresentada a profissionais em Annecy.

“É um filme sobre os queer durante a ditadura do Estado Novo, explora como as pessoas queer viveram durante aquela época e faz ainda uma conexão da homofobia do Estado Novo com períodos anteriores da história de Portugal”, disse Vier Nev.

A Cola Animation, “uma cooperativa onde não há patrões e todos têm uma quota de responsabilidade”, conta ainda em carteira, por exemplo, com projetos de duas séries de animação, da longa-metragem “O baile”, da antologia “Lúcido”, em realidade virtual e da qual Vier Nev fará o primeiro episódio, e também da próxima curta-metragem de João Gonzalez, depois do sucesso de “Ice Merchants”, premiado em Cannes e nomeado para os Óscares.

Bruno Caetano considera que Portugal já provou que tem “excelentes cursos” em animação, tem mão de obra especializada e, por isso, está “no bom caminho” para que este setor deixe de ser um nicho e passe a ser encarado como uma indústria.

“Acho que para sermos uma indústria temos de produzir mais séries e longas, principalmente longas-metragens. Não fazer apenas só objetos artísticos – já provámos que somos muito, muito, muito bons – , mas participarmos também em projetos comerciais, que nos permitam chegar a um público diferente, não só o público dos festivais, também o público da televisão, do cinema, dos ‘streaming’, e criar – aí está o lado mais importante de tudo isto – postos de trabalho”, defendeu Bruno Caetano.

Tal como a Cola Animation, também a produtora AIM Creative Studios mostrou que é possível uma produtora portuguesa conciliar projetos comerciais, como por exemplo, filmes promocionais e encomendas de publicidade, com obras autorais.

Na sessão, a AIM Creative Studios apresentou, entre outros, um projeto de publicidade animada a uma marca de leitores de livros digitais, e o filme “Amanhã não dão chuva”, de Maria Trigo Oliveira, que está competição oficial de curtas-metragens de Annecy.

“Para toda a história do cinema de animação em Portugal é muito importante que isto [a presença em Annecy] tenha acontecido. Há uma desproporção entre o sucesso da animação e o tamanho demográfico ou económico. A animação é um bom estandarte de Portugal”, elogiou Jonas César, fundador da AIM Creative Studios, em declarações à agência Lusa.

Para este produtor, um dos pilares da sustentabilidade da produção de animação é a abertura das produtoras portuguesas a coproduções internacionais, e festivais como o de Annecy são o lugar para fazer contactos.

“Na parte da indústria, falta muito aumentar a capacidade portuguesa para fazer coproduções com relevância, de séries de animação, de longas-metragens. Não é dinheiro perdido, porque o que nós estamos a perder é centenas de pessoas altamente qualificadas. (…) E a indústria são as pessoas, é o puzzle que o produtor tem de montar para dar sustentabilidade às pessoas que trabalham na animação”, sublinhou Jonas César.

O Festival de Cinema de Annecy começou no dia 09 e termina no dia 15, com a participação de mais de 16.000 pessoas acreditadas e uma extensa programação de sessões de cinema, que começam logo às 08:30, de masterclasses, debates, conferências, apresentações de projetos, exposições e sessões de autógrafos.

A programação dedicada a Portugal consiste na apresentação de sete programas temáticos, focados em diferentes gerações de produção e realização de cinema de animação, com uma escolha de 61 filmes.
Regina Pessoa, Abi Feijó, Laura Gonçalves, Alexandra Ramires, Bruno Caetano, Nuno Beato, José Miguel Ribeiro, Nuno Amorim, Alice Eça Guimarães, Vasco Sá e David Doutel são alguns dos nomes que marcam presença em Annecy.

No mercado dedicado ao filme de animação, que começa hoje, está ainda um pavilhão português, que, segundo o Instituto do Cinema e do Audiovisual, tem por missão ser “uma grande montra da animação portuguesa”.
Lusa/fim

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