Publicada a “Primeira Biografia do Marquês de Pombal” com notas e fixação de texto

A “Primeira Biografia do Marquês de Pombal”, de autoria do seu contemporâneo José de Mendonça, chega ao mercado com transcrição, fixação de texto, anotações e estudo introdutório dos investigadores brasileiros Alícia Duhá Lose e Rafael Magalhães.
José Mendonça (1725-1808) foi bispo do Porto e cardeal-patriarca de Lisboa, conheceu o marquês e conviveu com muitas das personalidades que refere nesta biografia, que faz parte do espólio da Coleção Jardim de Vilhena sob a guarda do Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC, sob o título “Memórias de El Rey D. José 1”), e é considerado o mais antigo texto biográfico sobre José Sebastião de Carvalho e Melo (1699-1782), o “homem forte” do rei José I, com uma ação preponderante na reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755, e com uma política reformadora do Estado.

Mendonça foi também colaborador do marquês, nomeadamente ao ter sido reitor da Universidade de Coimbra de 1780 a 1785, instituição que o ministro do reino reformou, excluindo os jesuítas do ensino e promovendo novos programas pedagógicos.
Sobre esta biografia, afirmam os investigadores brasileiros que certamente foi escrita entre os finais do reinado de Maria I, coincidindo com os anos finais de Carvalho e Melo, já exilado em Pombal, por ordem da rainha.
Alícia Duhá Lose e Rafael Magalhães realçam o “cuidadoso distanciamento crítico”, referindo que este “testemunho apresenta a vantagem de evitar tanto o ufanismo subserviente como a crítica cega e ressentida que tanto tem prejudicado a obra de Pombal.”
“Diríamos que [esta biografia] evita a polaridade antitética que (…) impede a justa apreciação de parte tão relevante da nossa história, obliterando a serenidade necessária para as tarefas críticas”, assinalam os investigadores.
Lose e Magalhães sublinham que Carvalho e Melo não foi “um estadista amado, foi sobretudo temido”, tendo conquistado o poder “com pulso firme, aproveitando as circunstâncias, por vezes trágicas, do mundo em que viveu e capaz de eliminar impiedosamente os muitos obstáculos com que se debateu, em ordem à reforma profunda do país.”
Os investigadores referem mesmo que “parte significativa” da ação de Pombal revelava “laivos de força desmedida”.
Referindo-se ao texto de José Mendonça, Lose e Magalhães afirmam: “A cada passo nos surpreendemos pelo facto de grandes obras, suportadas pela clarividência e por traços marcantes de racionalidade, conviverem com ações marcadas pelo recurso a métodos vincadamente repressivos”, como sentenças de degredos para as colónias, detenção em masmorras, nomeadamente nas da Junqueira, em Lisboa, açoites públicos e envios para as galés, “visando tanto culpados como inocentes.”
Os investigadores fazem menção de duas cópias do texto original à guarda do AUC, uma delas, encontrada no Mosteiro de S. Bento da Bahia, no Brasil.
O texto de Mendonça está organizado em 86 capítulos “que compreendem temas variados”, começando com o nascimento de José de Carvalho e Melo, em Lisboa, a 13 de maio de 1699 e a sua apresentação à rainha Maria Ana da Áustria e consequentemente à corte.
Esta primeira biografia do marquês inclui ainda diversos factos relacionados com a família real, como lutos, nascimentos e casamentos e até caçadas, e ações administrativas.
“O documento [de José Mendonça] trata do estado de Portugal no século XVIII; da reforma da Universidade de Coimbra, do terramoto de 1755 e das providências para a reconstrução da cidade, da reforma da Marinha e das querelas entre a administração pombalina e os jesuítas.”