Quão frágeis somos nós?
Basta passear um bocadinho pelas redes sociais ou ouvir um burburinho na rua para estacionarmos rapidamente num cenário pré-apocalíptico.
No que toca às Artes e Cultura, é nestas alturas que reparo na facilidade com que os profissionais da área ficam isolados, de forma inversamente proporcional à tarefa que desempenham enquanto motores de ligação entre as pessoas, suas culturas e ideias, bem como a convergência das várias artes entre si que marcam e fazem mover o mundo e o modo como este se pensa.
Tudo parado, por tempo mais ou menos determinado, e todos sem um mínimo de segurança perante esta situação. Espectáculos sem contratos de modo a que possam minimizar danos (se é que poderia valer de alguma coisa!), artistas, técnicos, produtores, associações culturais de mãos a abanar não apenas com adiamentos mas cancelamentos, sem data de retoma, sem rede de amparo num futuro próximo.
Tocando num assunto muitas vezes discutido mas quase sempre com ligeireza, importa pensar com urgência nesse estatuto e salvaguarda para esta classe de profissionais, com a devida seriedade. Milhares de trabalhadores independentes a fazer contas à vida, que se dedicam a ofícios que lhes preenche a alma mas sem qualquer segurança.
Que o pior desta altura vírica, sirva para se falar uma vez mais neste assunto. Se o Sr. Covid-19 se instalar por vários meses, quem vai segurar financeiramente estes independentes e seus dependentes? O que podemos fazer juntos?
(Bem sei que há muitas outras áreas afectadas, refiro-me somente à que me é mais íntima e à qual, de várias formas, pertenço.)
Texto do músico Valter Lobo
Valter Lobo é um músico, autor e compositor, licenciado em Direito pela Universidade do Minho. Desempenha funções de aconselhamento jurídico aos artistas na GDA Porto, da qual também integra a direcção. Desde 2015, é o criador e director artístico do 48/20 Ciclo de Cantautores.