Quase 10 anos depois, o ‘X’ marca o regresso triunfante dos OIOAI
Pedro Puppe reuniu João Neto, Bernardo Barata e João Pinheiro para uma nova aventura musical sob o nome de OIOAI, acrescentando à formação João Gil (Diabo na Cruz, You Can’t Win Charlie Brown), para grande satisfação dos fãs, que esperavam ter mais música para consumir da banda desde 2009. ‘X’ sucede então ‘Pela Primeira Vez’, o anterior álbum da banda que conta com êxitos como ‘O Ponto Fraco’ e ‘Desobedecer’.
OIOAI é o sonho de miúdos concretizado por graúdos; os músicos começaram a carreira e lançaram o seu primeiro álbum já quarentões, e sentiram agora a saudade (que transborda do disco para o ouvinte) de se reunirem e fazerem o álbum tão desejado por aquele mesmo grupo quando ainda eram «uns putos irreverentes».
‘X’, que conta já com dois singles, ‘Ela Melhora’ e ‘Pintar o Mar’, é o trabalho mais sólido da formação até agora, mas também o mais experimental e livre (é preferível evitar adjetivos como «o melhor» quando se fala de algo tão subjetivo como uma interpretação de um álbum, mas fica nas entrelinhas).
Já conhecido há largos meses, o single ‘Ela Melhora’ abre-nos as portas ao álbum, fazendo-nos sentir numa casa que não visitamos há algum tempo, mas que continua a ter o cheiro, o aspeto e o sentimento de um lar. É a casa dos pais, quando deixa de ser também a nossa. Rapidamente voltamos a encontrar as nossas paixões de adolescentes, logo no segundo tema, ‘Pintar o Mar’. O coro de crianças na segunda metade do tema e o build up lento, mas constante conferem ao álbum uma identidade irreverente e afincada, digna de quem se descobriu recentemente. Este tema acarreta também uma mensagem política e social fortíssima, focando-se nos perigos da exploração de petróleo, especialmente (por conterraneidade) na costa algarvia.
O próximo par de músicas, ‘A Voz que Ouço’ e ‘Verde’ atiram-nos ao passado, deixando espreitar por detrás da cortina a identidade musical reinventada em ‘X’ dos «antigos» OIOAI, e fazem relembrar músicas como ‘A Seta’ ou ‘Jardim das Estátuas’, se bem que num registo mais dirty e com mais camadas sonoras, que conferem uma riqueza pensada e melhor conseguida do que grande parte do que se escuta na música portuguesa.
Na música ‘Estão Iguais’, encontramos a tradução literal do que significa este álbum, ‘X’. É um reviver do passado entre amigos que se reencontram, que nos faz entrar no íntimo da banda através da sua lírica. A saudade dos OIOAI é a do público também. A saudade de tocar é também a saudade de ouvir e quão difícil seria descrever esta música noutra língua qualquer! Este tema é antecedido por ‘Não Sei’, o culminar do redescoberto amor pelo barulho nos OIOAI.
O álbum despede-se fazendo-nos lembrar de alguns dos trabalhos de Radiohead, com um toque q.b. de Ornatos Violeta, ao que ajuda a guitarra que brinca com a semi dessincronia e com as notas que quase parecem erradas, mas que dão sempre certo, bem ao estilo de Jonny Greenwood, e a simplicidade conseguida pela remistura e combinação de camadas de densidades variáveis, que remetem para a banda nortenha de Manel Cruz.
Acabamos de ouvir o álbum, e o tema final revela como nos sentimos – ‘Sozinho’. Ouvido do início ao fim, este álbum faz sorrir qualquer fã da banda, faz reviver momentos de tremenda alegria e faz com que todo o mundo pare por alguns minutos, ficando só o ouvinte, e a banda, que ressurge tal e qual Dom Sebastião, o prometido. E apesar de tudo o que se possa dizer de bom sobre o álbum (e há muito, muito a dizer), fica no final da escuta um agridoce na boca de quem teme que seja necessária outra década para ouvir mais dos OIOAI.
Foi bom. Foi de facto muito, muito bom. Mas queremos mais!
‘X’ é apresentado ao público pela primeira vez no dia 3 de março no Musicbox, em Lisboa, e podes comprar os bilhetes aqui pelo preço único de 8 euros.