Quem não é para dormir, não é para viver

por Sara Rathenau,    9 Junho, 2023
Quem não é para dormir, não é para viver
PUB

Porque é que quando crescemos o sono parece deixar de ter tanta importância? Porque é que há quem se vanglorie por dormir pouco? Já todos ouvimos algo como: “Dormir? Para quê?” ou então “Se dormir pouco, aproveito mais a vida”. Mas será que isto é realmente verdade?

Infelizmente vivemos numa sociedade de produção, onde não se valoriza o parar. O sono e a sua importância são menosprezados na nossa cultura e sociedade. Impera a cultura do fazer. Mas para se bem fazer é preciso parar. Tenho sentido cada vez mais a necessidade em contexto clínico de falar sobre a importância do sono.

Vamos começar por pensar nos bebés. É de senso comum que o bebé precisa de dormir muitas horas. Mas porque será? O bebé só consegue ter um desenvolvimento físico adequado se bem dormir. Durante o sono, o corpo do bebé liberta hormonas como por exemplo a hormona do crescimento (que está associada ao crescimento dos ossos, músculos e tecidos). O sono também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo do bebé. É durante o sono que consolidamos memórias.

Um sono adequado é fundamental para a regulação do humor e das emoções do bebé. É também durante o sono, que o sistema nervoso do bebé se desenvolve e amadurece. Um bom sono contribui significativamente para o desenvolvimento adequado do sistema nervoso central, influenciando por exemplo a capacidade de processar informação e a coordenação motora. Por fim, um bom sono, reparador, fornece energia para o bebé viver de forma saudável o dia seguinte: contribui para o bem-estar geral, ajuda a regular o apetite, o humor e a saúde física (exemplo de um artigo que fala sobre algumas ideias escritas em cima).

Sabemos que uma pessoa adulta não precisa de dormir tantas horas como um bebé. Mas porque não haveria de ser também importante para um adulto? Sobre os adultos, sabe-se que o sono desempenha um papel fundamental para o bem-estar em geral. É através do sono que a pessoa adulta consegue regular-se emocionalmente. Sabemos também hoje em dia que quando um adulto não dorme o suficiente, pode levar a alterações de humor e maior propensão para problemas de saúde mental. É, portanto, o sono que também nos promove bem-estar psicológico. Por outro lado, do ponto de vista físico, o sono é fundamental para recuperar e reparar tecidos danificados, fortalecer o sistema imunitário e ainda ajuda na regulação do apetite. Será muito diferente do que escrevi em cima? Do ponto de vista cognitivo o sono, desempenha a mesma função para a pessoa adulta como para o bebé. É fundamental para a retenção de informação. A falta de sono prejudica naturalmente a atenção, concentração e consequentemente a memória.

Focando o lado psicológico e emocional, é através do sono que integramos emoções. Estranho para a nossa sociedade, não é? É durante o sono REM que o nosso cérebro volta a visitar lugares e eventos emocionais mais pesados ou perturbadores e processa essas mesmas experiências. E sobre a criatividade? O sono desempenha um papel importante na resolução de problemas. Permite ao nosso cérebro que o mesmo faça conexões e associações que podem não ser evidentes quando estamos acordados. Durante o sono, o nosso cérebro pode fazer novas associações e criar ideias novas. A famosa expressão “dormir sobre o assunto” é verdade. Se nos focarmos no inconsciente, sabemos que é também durante o sono que a nossa mente é capaz de processar conteúdos inconscientes, como desejos, medos ou até traumas. Estes podem manifestar-se em sonhos, onde surgem informações importantes sobre nós e abre-se uma janela para o nosso inconsciente.

Existem benefícios em dormir pouco? Não. Dormir pouco é sinónimo de bem viver? Também não me parece. Quem sofre de insónias sabe bem do que falo. É importante que estejamos atentos. Desvalorizamos a importância do sono e o impacto que o mal dormir pode ter na nossa vida e na nossa saúde. Podemos fazer alguma coisa para dormirmos melhor? Sim. Cada pessoa é única, o que funciona com a Maria pode não funcionar com o Carlos. Mas existe uma coisa que se chama higiene do sono.

A higiene do sono é um conjunto de comportamentos saudáveis que promovem um sono com maior qualidade. Por exemplo: criar um horário regular de sono, evitar sestas, criar um ambiente confortável, criar uma rotina relaxante antes de dormir como tomar um banho quente ou ler um livro, afastarmo-nos dos ecrãs, fazer exercício físico durante o dia e ainda apanharmos sol. A vitamina D ajuda-nos a regularizar o ritmo circadiano e consequentemente a melhorar a qualidade do sono.

Para concluir, só adormece quem está relaxado. Precisamos todos de fazer um reset. Emocional, físico e cognitivo. E isso é possível através de uma boa noite de sono. Se tens dificuldades em adormecer, manter o sono, se acordas mais cedo do que o suposto, ou se sentes que o teu sono não é reparador, não normalizes. Não alimentes a cultura do não dormir é que é bom. Procura ajuda especializada. Cuida de ti. Porque uma coisa é certa, quem não é para dormir, não é mesmo para viver.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.