Querer voltar

por Cronista convidado,    11 Setembro, 2022
Querer voltar
Fotografia de Vishnu R Nair / Unsplash
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Nunca pensei estar em Setembro de 2022 a escrever sobre os D’ZRT. Este verão, a banda hoje infelizmente composta apenas por três dos seus quatros originais membros — Cifrão (Zé Milho), Edmundo Vieira (Rui) e Paulo Vintém (Tó Pê), inicialmente integrando Angélico Vieira (David), por todos recordado com particular carinho — anunciou que iria regressar aos palcos com a tour “Encore” (“Ainda”, em Francês).

O verão, esse, tornou-se imediatamente mais azul. Umas horas bastaram para que a notícia se disseminasse pelos mídia e, com a mesma rapidez com que foram postos à venda, os bilhetes para a primeira data anunciada esgotaram, com a instantânea enchente do maior palco da cidade de Lisboa. A banda portuguesa mais bem-sucedida do século, com todos os seus discos a ultrapassarem a marca de quinhentas mil cópias vendidas e centenas de espetáculos realizados em Portugal, tornava-se a primeira banda portuguesa a esgotar o Altice Arena.

A êxtase com que o anúncio foi recebido levou à abertura sucessiva de novas datas, todas elas continuamente concorridas, para Lisboa, para Guimarães e para o Porto. Estava confirmado o regresso da Boy Band formada em 2004 com a série televisiva “Morangos com Açúcar”, um sucesso que se materializou para lá dos ecrãs, que entrou pelas nossas casas e que ficou pelas nossas vidas, como uma pequena parte de nós que a memória aviva a cada vislumbre de um qualquer momento de saudade.

É disso que se trata; dessa palavra tão nossa; desse sentimento tão nosso; de saudade. A transição do milénio batia e, a faixa etária que sagradamente se sentava em frente à televisão entre as 18h15 e as 20h00 para viver a história do Pipo e da Joana, da Ana Luísa e do Simão, do Tiago e da Matilde, apercebia-se que era a adolescência que estava à porta.

As gerações têm hinos que as unem e, as fases das suas vidas, bandas sonoras que as marcam — os D’ZRT são uma banda, mas não foi isso que fez os D’ZRT. O trio (que nunca deixará de ser quarteto) é aquilo a que se chama um fenómeno porque só um fenómeno se eterniza. Se a nossa vida fosse um filme (e quantas vezes o não parece), a banda sonora dos momentos felizes que no ápice com que o tempo passa, se tornam nas mais emocionantes recordações num lapso, seria composta pela Para Mim Tanto Me Faz, pela Estar Ao Pé de Ti, pela Verão Azul e, evidentemente, pela Querer Voltar, que a banda nos concedeu a sorte de compor (ou, convenhamos, não haveria verdadeira música de fecho para nenhuma discoteca).

Os D’ZRT estão de regresso e, com eles, os olhares franzidos, as veias palpitantes, os corações apertados e os abraços de grupo, tal a avassaladora sensação que é ouvir a voz da nostalgia. A febre coletiva que rapidamente se sentiu foi o resultado de uma vontade de usufruir de um privilégio. O de se poder voltar atrás no tempo de cada vez que os ouvimos, aos encontros de amigos — à data, crianças — sob os fins de tarde de praia, aos fins de todas as noites que sempre fazem — os agora adultos — cantarem até não poder mais.

Éramos então adolescentes. A adolescência batia à porta. Nós, tão inocentes quanto entusiasmados, corremos para abrir-lhe a porta, de casa, do tempo e da vida. Sob o sabor de um lanche agridoce, sentou-se ao nosso lado, serviu-nos a ânsia louca de queremos ir e, mais rapidamente do que deveria, condenou-nos ao sabor de um sufoco nostálgico, o de sabermos que nunca poderemos verdadeiramente voltar. Este regresso, é o mais perto que alguma vez estaremos disso. Se soubéssemos, tínhamos demorado mais a deixá-la entrar.

Crónica de Catarina Teles de Menezes.

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