Reflexões sobre o cárcere, em “918 Nights”, de volta às salas
Volta a ser apresentado, primeiro em Lisboa, entre 17 e 23 de Fevereiro no Cinema Ideal, e no final do ano no Porto em colaboração com o Porto/Post/Doc, o filme vencedor do Grande Prémio Cidade de Lisboa para Melhor Filme da Competição Internacional do 19º Doclisboa. Chama-se 918 Gau (918 Nights), e é realizado pela cineasta basca Arantza Santesteban.
O filme, inserido no registo documental, vem a propósito das 918 noites de cárcere vividas por Arantza. Foi presa na sequência de uma reunião com outros activistas políticos, conotados por ligações ao grupo separatista ETA, e o motivo para este registo surge quando confrontada com a materialidade das várias cartas que recebera na prisão. Servir-se-á não só de palavras escritas, mas também de muitas fotografias, para construir um mosaico impressionista que retrata não apenas esse período de reclusão, mas também o período subsequente, já a morar na cidade de Berlim.
De facto, a sua personalidade política parece relegada para um segundo plano — este não é, de todo, um filme politicamente militante —, sendo mais contextualização do que justificação do exercício fílmico. Arantza constrói uma narrativa pessoal, poética até no uso que faz dos seus materiais, onde intui confrontar uma metamorfose na sua pessoa: levanta questões sobre uma certa glorificação do presidiário, não querendo que a vejam como heroína, e deambula, elegantemente, sobre matéria de identidade pessoal.
Formalmente é um filme interessante, e uma proposta que arrisca dentro do género de documentário; mas deixa um travo agridoce pela sua duração breve, de cerca de uma hora, pois é quando nos conquista na sua linguagem que o filme termina. Estará em mostra no Cinema Ideal entre 17 e 23 de Fevereiro, com presença da realizadora na primeira sessão; na sexta-feira, dia 18, a apresentação do filme fica a cargo da médica e activista política Isabel do Carmo.