Reimaginando o jazz da Blue Note
Em 2020, a histórica editora Blue Note viu os seus ricos arquivos serem revisitados por uma nova e empolgante geração de artistas, maioritariamente baseada no Reino Unido. O sucesso internacional do projeto encetado pelo lendário selo americano e pela Decca Records retorna agora com a sua segunda edição, demonstrando novamente o espírito absolutamente daqueles que são (ou serão) os grandes nomes do jazz contemporâneo — expostos a uma imensidão de influências e contextos. Esta nova compilação de 16 faixas apresenta novas versões de músicas que carregam um peso e histórias muito próprias. Blue Re:imagined II acaba por ser um disco com um duplo sentido muito especial: por um lado relembra-nos de temas que retratam eras vindouras do género, por outro é também um estado da arte da música jazz e de alguns dos seus principais personagens atuais.
O Re:imagined II da Blue Note sumariza alguns dos artistas de que falámos no passado nesta coluna. Desde Franc Moody, que apresenta uma versão de “Cristo Redentor”, de Donald Byrd — que também vê “Miss Kane” receber um tratamento soberbo por parte de Swindle —, passando por Maya Delilah, que faz um cover de “Harvest Moon”, de Neil Young, pelo pianista Reuben James, que reimagina a balada de Wayne Shorter, “Infant Eyes”, até à tuba de Theon Cross em “Epistrophy”, de Thelonious Monk e Kenny Clarke. E há mais. Yazz Ahmed, Daniel Casimir, Oscar Jerome e Binker Golding já são nomes com um certo estatuto, mas outros como Conor Albert, parthenope e Yellow Straps estão aí ao virar da esquina. Todos eles apresentam momentos especiais. Duplamente especiais, como referido acima. Refletem um tempo diferente, com um equilíbrio bem conseguido entre inovação e respeito, equilibrando a tradição do género com o seu futuro — mais diverso, e ainda bem, mas aberto como sempre. Disponível em vinil, Blue Note Re:imagined II é uma fotografia do nosso tempo, através da perspectiva das composições clássicas.
E ainda…
O trompetista e produtor Jackson Mathod apresentou recentemente o seu novo EP, Come On Now. O clique no botão do play transforma o pesado em leve, o complicado em fácil, o aborrecido em divertido. Apoiado por um elenco talentoso de artistas, incluindo o multi-instrumentista David Mrakpor (Blue Lab Beats) e o baterista Mcknasty, Come On Now traz-nos grooves contagiantes, linhas de metais cativantes e pitadas deliciosas de jazz, música latina e hip hop.
Este é o último artigo d’O Sotão na Comunidade Cultura e Arte. Durante cerca de dois anos, partilhamos alguns dos nomes mais interessantes e ecléticos do panorama da música independente. Foi um prazer.