Reportagem. “Contrarregra”: a realidade de quatro companhias de teatro no interior do país
Quatro companhias, em quatro episódios, mostram como é fazer teatro no interior do país.
Longe dos grandes centros, no interior centro de Portugal, em lugares onde, por vezes, a densidade populacional nunca chega aos 100 habitantes por quilómetro quadrado, há menos divulgação do que se lá passa, a cultura chega com mais dificuldade e em quantidades mais pequenas porque não é “rentável”, os espetáculos faturam menos, os transportes públicos são em menor quantidade, a população está mais idosa. Ainda assim, há quem prefira, inversamente, viver nestes lugares.
O projeto “Contrarregra”, que teve o apoio da Direção-Geral das Artes (DGARTES) e da República Portuguesa, reúne uma série de entrevistas, em quatro episódios, que partem da particularidade da arte teatral se comunicar de forma muito direta e emocional com o público: por ser presencial, por depender diretamente da interpretação dos atores e por ter a flexibilidade de se apresentar em diversos formatos e espaços. Este é também um estudo sobre as características que dão ao teatro a oportunidade de se aproximarem das comunidades, de as influenciarem cultural e humanamente e, principalmente, junto das populações no interior do país onde muitas vezes são o principal agente cultural.
Com o “Contrarregra” descobriram-se coisas que poderão ser vistas, lidas e ouvidas nas entrevistas da série no Youtube da Comunidade Cultura e Arte, e descobriu-se sobretudo que nenhum dos entrevistados tem vontade de desistir ou mudar de lugar. Todas as companhias encontraram ali a sua morada há mais de 20 anos e aceitam as vantagens e desvantagens de ser uma companhia do interior de Portugal. Se na ESTE – Estação Teatral, no Fundão, apreciam, por exemplo, o ar puro, na ASTA, na Covilhã, aprecia-se uma liberdade criativa de poder fazer as coisas quase pela primeira vez. Se, na ACERT, em Tondela, o trabalho parece desenvolver-se mais rápido e com mais fluidez do que em grandes centros urbanos cheios de distrações e horários, no Teatro Regional da Serra de Montemuro, em Castro Daire, dá-se um valor muito grande às ligações humanas fortes que o trabalho teatral com pequenas associações traz.
Todas estas companhias, em maior ou menor quantidade, se apresentam em diversos sítios de Portugal e do mundo, conhecem outras realidades, outras formas de estar e fazer arte e todas elas, uma vez e outra, regressam às suas raízes, exploram o melhor dos seus territórios e procuram fazer a diferença nas suas populações.