Reverence Valada: entre o amor e o psicadelismo dos Brian Jonestown Massacre
Na terceira edição do Reverence Valada, seria de esperar uma adesão mais elevada por parte do público. A arrumação do recinto modificou-se e a aposta em dois palcos de média dimensão, acabou por ser, sem dúvidas, uma decisão inteligente por parte da organização. Este ano as bandas mais ligadas às sonoridades do stoner passaram para segundo plano e a aposta foi remetida para as sonoridades da família do post-punk e shoegaze. No meio de tudo isso o amor e o psicadelismo dos Brian Jonestown Massacre.
Desde a primeira edição que muitos já pediam a presença da banda californiana e isso valeu-lhes o estatuto de banda mais aguardada do segundo dia de festival. A primeira vez de Anton Newcombe e companhia em solo nacional (excepto Joel Gion que actuou por cá no ano passado) antevia uma atmosfera de curiosidade entre os fãs que já se acumulavam na primeira fila para assistir ao soundcheck da banda. O som não foi propriamente amigo, ainda assim, e como era de esperar não foi preocupação para os elementos da banda. Estão mais velhos mas a atitude não se altera, entregam-se totalmente às suas músicas, partilhando-as com o público. Não há pormenor ou contratempo técnico que se intrometa na sintonia dos músicos e de quem os vê. Nem mesmo quando o cabo da guitarra de Newcombe derruba o seu microfone, tudo flui com normalidade, não se trata de amadorismo, trata-se da anarquia absoluta que reina em cada acorde dos Brian Jonestown Massacre.
A plateia foi pouco efusiva, nunca se excedeu, assistindo impávida e serena a um dos símbolos da cultura underground. Mais “do it yourself” que muitas bandas punk, onde as grandezas e os luxos ficam à porta. A banda que nunca acaba, que se reconstruiu e multiplicou-se em torno do seu criador. Marcados pela figura desajeitada do senhor Joel Gion na pandeireta, reflexo máximo da aura de liberdade que caracteriza o septeto.
Abandonaram o palco numa chuva de feedbacks e aplausos, palmas que se desdobravam pela plateia que tinha acabado de assistir a um pedaço de história. Pelo que construíram e desconstruíram, pelo amor que despejam na sua arte. Uns são ícones da indústria, os Brian Jonestown Massacre são ícones, desta bonita forma de expressar que é a música.
Fotografia de Nuno Ferreira Santos / Público