Reverence Valada: os rebeldes Fat White Family e os dementes A Place To Bury Strangers
A terceira vez do Reverence Valada, é também a minha, contudo, seria a segunda para os A Place To Bury Strangers, mas o melhor fica para o fim. Ficámos a par da pequena transformação no recinto do festival e seguimos para aquele que era o primeiro concerto da noite. O palco Rio lá estava no mesmo sítio, por entre árvores e a escuridão, no entanto abandonou a temática psicadélica dos anos anteriores e ganhou uma nova mística. Lá no alto já tocavam uns rapazes britânicos, os Fat White Family.
Quem assumia o microfone era um jovem em tronco nu, um animal de palco em potência, uma espécie de fusão do Ian Curtis com o Iggy Pop dos anos 70. Vagueiam pelo punk, post-punk e shoegaze. A rebeldia tipicamente britânica corria-lhes nas veias, tanto que se tivessem nascido há 60 anos atrás poderiam fazer parte do elenco de “Laranja Mecânica”. Os que assistiam não escondiam o entusiasmo, a agitação maior, claro, na mais recente “Whitest Boy On The Beach”.
Pelo meio da poeira malandra que se fazia sentir, caminhámos até ao palco Sontronics e poucos minutos depois lá estavam os Dead Meadow. O trio norte-americano teve uma presença bastante discreta em palco, compensada pela potência que exerceu nas suas músicas. A banda já é um dos nomes com mais reconhecimento na cena do stoner e heavy psych, ainda assim o look humilde com um toque grunge fica-lhes bem. O concerto, tal como a noite, foi morno, o público também ou estaria a guardar-se para os Brian Jonestown Massacre.
Depois dos Brian Jonestown Massacre encherem os corações presentes, seguiu-se a agitação caótica e epiléptica dos A Place To Bury Strangers. Barulho por todo o lado, uma bateria frenética prestes a sofrer um AVC num hospício onde os strobes não pararam de disparar. O trio nova-iorquino despejou noise por todos os poros, demência que derivou numa astúcia profícua na arte de partir guitarras. Se antes a humildade de Anton Newcombe tinha deixado tudo numa apaixonada sintonia, de seguida, os A Place To Bury Strangers aumentaram a tensão arterial da plateia. Sem luz, apareceram por entre as trevas junto à mesa de som, onde tinham um set preparado, tocaram no epicentro do furacão que eles próprios geraram. Mais do que um concerto, uma performance que, por si só, valeu o preço do bilhete.
Fotografia de Nuno Ferreira Santos / Público