Rui Cortes: ‘Com a desculpa da troika destruiu-se a administração pública dos recursos hídricos’
O que vais ouvir, ler ou ver foi produzido pela equipa do É Apenas Fumaça, um projecto de media independente, e foi originalmente publicado em www.apenasfumaca.pt.
A água é um bem escasso. Por muito que não pareça a quem vive em grandes cidades, como Lisboa ou o Porto, o líquido que sai das nossas torneiras não é um dado adquirido. Basta recordar a situação vivida na Cidade do Cabo, na África do Sul, para se chegar a esta conclusão.
Em Portugal não chegámos ainda ao ponto drástico que se vive nessa e noutras zonas do continente Africano, mas não deixa de ser preocupante. Como vimos o ano passado, e no princípio de 2018, o país está, também, bastante vulnerável a períodos de seca prolongados, que põem em causa a sua capacidade de assegurar recursos hídricos adequados em todo o território nacional.
Esta condição decorre, em boa parte, das alterações climáticas. Mas não só. Existem vários outros factores que põem em perigo as nossas águas como, por exemplo, a poluição dos rios. Como vimos recentemente no caso do Tejo, as descargas protagonizadas por entidades privadas, nomeadamente as celuloses, danificam um bem que é público, e são a manifestação de uma externalidade grave que estas empresas geram para o meio ambiente, por vezes com efeitos irreversíveis.
Por outro lado, a gestão de recursos hídricos em Portugal tem sido constantemente secundarizada, na opinião de alguns, como o ex-ministro do ambiente do primeiro Governo de José Sócrates, Francisco Nunes Correia. Com os cortes dos anos da Troika, entidades competentes como as ARHs (Administrações de Região Hidrográfica) foram extintas e integradas na Agência Portuguesa do Ambiente, naquilo que Nunes Correia, entre outros, considera ser “uma perspectiva retrógrada de subalternização desta temática”
Dentro deste tema, várias outras questões saltam à vista. Serão as barragens energia limpa? As penas e as multas para as empresas que poluem os rios são adequadas? Como se coordena a gestão de caudais com os nossos vizinhos de Espanha? Poderão Lisboa e Porto deixar de ter água a sair das suas torneiras algures nas próximas décadas?
Para Rui Cortes, professor na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, tudo isto são questões às quais não podemos escapar. O especialista em recursos hídricos foi o convidado do É Apenas Fumaça desta semana e falou da enorme falta de informação que existe nestes assuntos e abordou ainda temas como a remoção de barragens, o plano nacional de regadios e a aposta na rega para atividades agrícolas.
Até já,
Tomás Pereira
Texto e entrevista: Tomás Pereira
Preparação: Tomás Pereira e Bernardo Afonso
Captação e edição de som: Bernardo Afonso
Captação e edição de imagem: Frederico Raposo e Bernardo Afonso