Saúde mental. Até quando o parente pobre da saúde?
O Debate-Boca é o programa de debate da rádio da Escola Superior de Comunicação Social, a ESCS FM. O episódio da segunda temporada fala de saúde mental. Que soluções existem para um problema que parece ter sido agravado por mais de um ano de pandemia?
É um tema que é tratado com pinças. A saúde mental é, desde sempre, o parente pobre da saúde. Até há pouco tempo, falar de saúde mental significava trazer à tona um tema que deveria estar escondido num mundo visto como obscuro, raro e bastante distante da maioria. O que não quer dizer que os problemas que afetam o domínio das emoções e do controlo que temos sobre elas não sejam tão antigos como uma simples gripe ou constipação.
Há que reconhecer que os últimos anos têm ajudado a mitigar a quase não relevância que a saúde mental teve durante muitos anos. E uma pandemia, com consequências inquestionavelmente negativas na saúde e economia de milhões e milhões de pessoas pelo mundo fora, parece assumir o mérito de ter colocado o assunto no centro do debate.
O trabalho, as aulas ou até a relação com a família e amigos passaram a desenrolar-se à distância de um ecrã, o que aumentou a solidão. É verdade que as depressões ou os burnouts não escolhem sexos ou idades. Mas entre os mais novos o problema parece ser ainda maior e mais grave. Diz a Organização Mundial de Saúde que o suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens na faixa etária dos 15 aos 29 anos, sendo apenas suplantado pelos acidentes rodoviários.
Já este verão, um estudo realizado pelas principais associações e federações académicas nacionais comprova os reflexos negativos que a pandemia teve no agravamento da saúde mental dos jovens. O inquérito “Impacto da Covid-19 nos estudantes do Ensino Superior” chegou à conclusão de que 50 % dos alunos da amostra viram o seu estado mental piorar, enquanto 38% reconhecem que essa mudança terá influenciado o seu desempenho na vida académica. De destacar ainda o facto de 28% dos estudantes inquiridos terem admitido recorrer a medicação para combater sintomas de ansiedade ou depressão, com quase 50% dos que integram esse leque a assumirem fazê-lo sem qualquer prescrição médica.
São números reveladores, que contribuem para gerar o debate e tentar perceber que soluções podem ser aplicadas com o intuito de diminuir os sinais de ansiedade ou depressão entre as faixas etárias mais jovens. O Debate–Boca deste mês quer contribuir para a discussão, num episódio que conta com a moderação de Rita Felizardo e a opinião de Ana Baptista de Oliveira, psicóloga, especialista em psicologia clínica e da saúde, e Ana Justo, recém-licenciada em Psicologia pela Universidade Católica Portuguesa.