Semibreve regressa esta quinta-feira a Braga com a música eletrónica e a arte digital na descoberta da cidade
14.ª edição do festival de música eletrónica e arte digital arranca esta quinta-feira e decorre até domingo em Braga, cidade criativa da UNESCO para a Media Art. Últimos bilhetes diários estão à venda.
Com espetáculos, instalações, conversas, peças sonoras e workshops espalhados por diversos locais da cidade de Braga, o festival Semibreve apresenta anualmente um programa cuidadosamente concebido como uma viagem, permitindo ao público sucessivas experiências multidisciplinares.
Considerada uma plataforma única para a celebração da música contemporânea e da arte digital, o festival Semibreve tem vindo a figurar entre os melhores festivais do género na Europa, reputação internacional que atingiu graças à qualidade do seu programa e ao seu compromisso com a comunidade, a diversidade e o fomento do trabalho de artistas que não têm medo de correr riscos, entrar em novos mundos e explorar o desconhecido. Entre salas como o Theatro Circo e o gnration e espaços menos convencionais da cidade, como o Santuário do Bom Jesus do Monte, a Igreja dos Congregados e a Capela da Imaculada Conceição, o programa do festival reflete-se em colaborações únicas, peças e apresentações sonoras, performances audiovisuais, instalações e clubbing, bem como workshops e conversas.
Ao longo de 13 edições, o Semibreve procurou oferecer um programa que espelha a qualidade em detrimento da quantidade, tornando-se um ponto de encontro e um espaço criativo e colaborativo detentor de um espírito inovador.
A edição de 2024 arranca a 24 de outubro, quinta-feira, com um concerto de Kalia Vandever no Santuário do Bom Jesus do Monte. Trombonista e compositora vencedora de um Grammy, conhecida pela sua abordagem única ao instrumento, apresentará em Braga o seu primeiro álbum a solo, “We Fell in Turn”, lançado no início deste ano. Graduada pela The Juilliard School, Kalia tocou já com Harry Styles, Lizzo e Moses Sumney, fez aparições no “Saturday Night Live” e venceu o Next Jazz Legavy. Colocou-se nas bocas do mundo pelo seu álbum de estreia, “In Bloom” (2019), atenção que redobrou com “Regrowth” (2022).
No segundo dia do festival, o festival chega à sua sala principal, o Theatro Circo, com a estreia nacional de “Białowieża“, encomenda sonora ao músico e field recordist britânico Chris Watson, membro fundador de Cabaret Voltaire e um dos mais aclamados captadores de sons da vida selvagem e de fenómenos naturais (e colaborador regular de David Attenborough e da BBC), e à polaca Izabela Dłużyk, gravadora de som cega e reconhecida pela sua profunda ligação à acústica da natureza. A peça terá difusão em total escuridão da sala e será escutada num sistema de som de 8 canais, numa apresentação que chega a Portugal depois de estrear nos festivais polacos Ephemera e Unsound.
O trabalho enquadra-se em “The Crossing”, projeto colaborativo do Semibreve com os festivais Unsound, Sónar e Berlin Atonal, como parte da rede TIMES, uma plataforma colaborativa que reúne 10 festivais europeus (Berlin Atonal, Elevate, Insomnia, Le Guess Who?, Nuits sonores, Reworks, Semibreve, Sónar, Terraforma, Unsound) para criar performances originais que combinam música e artes visuais. Além da co-curadoria de artistas e das performances originais do projeto, a rede TIMES visa apoiar, promover e melhorar a diversidade e sustentabilidade no setor musical.
Também no âmbito da rede Times e como parte do projeto “The Crossing”, “A Forbidden Distance” é uma performance que junta os irmãos iraniano-canadenses Saint Abdullah, o designer de som e músico irlandês Eomac, e da vídeo-artista e cineasta italo-australiana Rebecca Salvadori. O concerto explora o senso de identidade em relação aos processos de deslocamento. A apresentação terá lugar no domingo, no encerramento do programa de performances no Theatro Circo.
Ainda na sexta-feira, a sala principal do Theatro Circo receberá a estreia da versão alargada de “The Reintegration of the Ear”, um novo trabalho de Christina Vantzou. Em palco, a compositora e artista sonora norte-americana, que estará de regresso ao festival, contará com a soprano alemã Irène Kurka e o compositor e multi-instrumentista norte-americano John Also Bennett, numa performance multifónica que contará com fita, voz, flauta baixo e eletrónica.
No tarde de sábado, a Capela Imaculada do Seminário Menor, que se tornou já num dos ex-libris do festival, receberá o pianista e compositor Giovanni Di Domenico com a estreia do novo trabalho, “Nachleben”. Criador de uma atmosfera sonora contemplativa através de um minimalismo contemporâneo, Domenico colaborou com artistas como Jim O’Rourke ou Akira Sakata e fundou a editora Silent Water. As composições de Domenico, muitas vezes improvisadas, evocam imagens de ruas desertas e jornadas introspetivas.
Já à noite, o festival volta a rumar ao Theatro Circo para receber a pianista e compositora de Estocolmo Shida Shahabi. Nascida em 1989 e filha de pais iranianos, estreou-se em 2018 com o seu aclamado álbum “Homes”. Influenciada pela música para cinema, compôs para bandas sonoras para filmes como “The Burden” e “Schoolyard Blues”. As obras de Shida combinam elementos clássicos e eletrónicos, criando composições profundamente atmosféricas. No festival, Shida apresentará “Living Circle” (2023), aclamado segundo álbum no qual combina técnicas ambient e drone.
Na mesma sala, o produtor britânico Kevin Richard Martin, conhecido pelo seu trabalho enquanto The Bug e também como membro fundador de King Midas Sound, fará em palco a estreia mundial de “Black”, um elogio musical a Amy Winehouse feito num álbum ambient e possuído pelo fantasma de “Back to black”.
Já no domingo, quarto e último dia do festival, o Theatro Circo receberá a artista norueguesa-mexicana Carmen Villain, criadora de música atmosférica que mistura gravações de campo, instrumentos de sopro, samples e sintetizadores, incorporando elementos fourth world, dub e ambient. No Semibreve, Villain apresentará músicas do seu mais recente álbum, “Music From The Living Monument”, composto como banda sonora para uma peça de dança da coreógrafa húngara Eszter Salamon. A tarde na sala terminará com Saint Abdullah, Eomac e Rebecca Salvadori.
O festival encerra no domingo com Moritz von Oswald, que estará de regresso a Braga após uma calorosa performance em 2016 com Rashad Becker. O produtor alemão apresentará a sua nova obra-prima, “Silencio”, uma composição em sintetizadores clássicos e onde trabalhará com um coro de 16 vozes para explorar as diferenças entre o som humano e o artificial.
Já as noites de clubbing do festival, que vão acontecer na sexta e sábado, estão reservadas para o gnration, a outra sala mediática da cidade. O programa para a dança contará com atuações do produtor espanhol Nueen, que colaborará com a vocalista, rapper, poeta e performer de Manchester Iceboy Violet; a artista afro-portuguesa Nídia, que mostrará o seu terceiro álbum, “95 MINDJERES”; a artista eletrónica berlinense PUYR, que apresentará o segundo álbum, “Lucid Anarchy”, lançado pela Subtext Recordings; Rrose, alter-ego do artista nascido nos EUA e baseado em Londres Seth Horvitz; Ziúr, uma das produtoras mais empolgantes a emergir das margens da música club de Berlim nos últimos anos; Saya, DJ e ativista, filha de pais palestinianos, que apresentará um set com influências árabes, kuduro, dabke e funk brasileiro; e Van Der, DJ e produtor de Lisboa, originalmente de São Tomé e Príncipe, que apesar de explorar diferentes subgéneros nos seus sets é no techno que encontra a sua especialidade.
Para além das performances, a nova edição Semibreve volta a apresentar um programa de instalações, conversas, workshops e peças sonoras.
Nas instalações, o festival apresenta, no Theatro Circo, a obra vencedora do Edigma Semibreve Award 2024, prémio internacional que destaca os melhores trabalhos no campo da arte e tecnologia. “Chasing Waterfalls”, instalação audiovisual que evoca uma cascata suspensa com recurso a inteligência artificial, criada pelo coletivo Hidden Edges, dupla formada por Myriam Bleau e Lucas Paris, estará patente para visita no salão nobre do Theatro Circo. Já no gnration, o festival apresenta um conjunto de instalações selecionadas no âmbito do Edigma Semibreve Scholar, série de trabalhos de media art desenvolvidos por estudantes do ensino superior das academias portuguesas. A entrada é livre e os trabalhos podem ser visitados de quinta a sábado.
No programa de conversas, a decorrer no Museu Nogueira da Silva, o festival propõe uma mesa-redonda sobre música migrante, fronteiras e identidades sociais, e que juntará o músico Mohammad Mehrabani-Yeganeh (metade de Saint Abdullah) e a DJ Saya Mohamed. Já no sábado, a investigadora portuguesa Margarida Mendes dará uma palestra onde procura narrar a vida e o espaço acústico dos rios Mississippi e Tejo. A entrada é livre.
A manhã de sábado está reservada para o programa de formação, com a realização de dois workshops: um para o público em geral, com Christina Vantzou a debruçar sobre o papel vital do som e da voz na formação do mundo; e outro para estudantes,com Kalia Vander a conduzir um workshop focado no seu tom sonoro e na sua improvisação lírica. Ambos os workshops têm lugar no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga.
Já a Casa Rolão acolherá duas peças sonoras encomendadas pelo festival para a edição de 2020 e que voltam agora a ser expostas ao público. “The Stone Tape”, de Jim O’Rouke, e “Malört”, de Keith Fullerton Whitman, podem ser escutadas gratuitamente de quinta a domingo.
Os últimos bilhetes diários de acesso ao Theatro Circo e ao programa de clubbing do gnration estão à venda no site do festival. Os passes-gerais encontram-se esgotados.