Ser professor
Iniciei este ano letivo, na qualidade de estagiário, a profissão que ambiciono seguir durante a minha carreira profissional: ser professor.
Considero que se professor é das profissões mais bonitas a que se pode ambicionar. Passa-se uma vida inteira a ensinar crianças e jovens, a dar-lhes ferramentas para que se preparem para o mundo que aí vem. Está-se a formar o futuro da sociedade, neste caso portuguesa, dando o melhor de nós para que todos os alunos tenham sucesso. É inequívoco que todos os professores que passam pelo trajeto escolar dos jovens vão ter influência nas suas vidas – todos nos lembramos de frases ou ações que alguns professores tiveram connosco. Resumindo, a Educação deve ser um tema de enorme preocupação e importância para qualquer país, na medida em que é através dela que as sociedades evoluem.
Como tem sido noticiado, começa a haver uma falta de professores gritante nas escolas portuguesas. Não vou apresentar soluções, até porque não é minha função. Contudo, vou descrever como se passam os estágios atualmente, e que consequências isso traz.
Aos professores estagiários é atribuído um orientador consoante a escola onde são colocados. A partir daí, os estagiários assistem às aulas que os respetivos orientadores lecionam às suas turmas e, para além disso, devem lecionar, no mínimo, um número de aulas previamente definido. Os professores estagiários podem também propor atividades à escola, como qualquer outro professor. Contudo, não há qualquer tipo de compensação financeira, ao contrário de outros tempos. Os professores estagiários não recebem qualquer quantia monetária, nem mesmo subsídio de alimentação ou de deslocação. Quanto aos orientadores, dou-lhes o mérito de aceitarem, quase que por carolice, orientarem durante um ano letivo os jovens estagiários, uma vez que não recebem praticamente nenhuma bonificação. Este é o primeiro ponto a destacar: precisando Portugal de novos professores, é assim que se quer atrair jovens para o Ensino?
Apesar de se noticiar que há falta de professores, não se vê grandes movimentações para alterar o paradigma. Ao que parece, estaria a haver negociações para motivar os jovens a seguir a via do ensino, mas com a queda do Governo, não se sabe o que esperar. Certo é que há cansaço por parte da classe, e também se sente que não há reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. Quando digo que quero ser professor, dizem-me logo que vou passar uns anos a saltar de terra em terra, de escola em escola, sem grande rumo ou estabilidade de vida. Isto motiva alguém? É preciso querer-se muito ser professor para ultrapassar todos estes obstáculos e, como acima referido, muitas vezes sem reconhecimento da sociedade.
Ao ver noticiado que uma das soluções apresentadas passa pela contratação de pessoas sem formação na docência, apetece-me levar as mãos à cabeça. Não porque essas pessoas tenham menos capacidade, mas porque se quer seguir a via mais fácil: não resolver o problema de base, e optar pelo desenrasque. Os governantes têm de decidir de uma vez por todas que reformas são precisas no sistema de Ensino. Não se pode andar sempre a correr atrás do prejuízo. Há jovens a quererem ser professores, mas é preciso que se criem condições para que a profissão seja atrativa. Se vemos imensa gente contestar a situação atual do Ensino, como é que se quer que os mais novos optem por essa via?
Com eleições marcadas para janeiro, penso que um dos pontos fortes que deveria ser debatido pelos diferentes candidatos é exatamente a Educação, ou seja, de que forma pensam alterar o paradigma da falta de professores em Portugal, que deve também passar pela alteração dos estágios. Ser professor é das mais nobres profissões que existem. É dar a conhecer aos alunos aquilo que é o mundo, e prepará-los para serem melhores. Àqueles que têm o poder de legislar, não comprometam o futuro dos alunos, dos professores e do país. E Portugal precisa de um bom futuro.