Série documental “Dá-lhe Gás” mostra como petrolífera quer explorar Aljubarrota e Bajouca até ao final de 2019
O que vais ouvir, ler ou ver foi produzido pela equipa do Fumaça, um projecto de media independente, progressista e dissidente e foi originalmente publicado em www.fumaca.pt.
A 3 de julho passado, demos esta notícia em primeira mão. Andávamos atrás do tema e percebemos que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) demorava a tornar público um parecer sobre a necessidade de haver ou não Avaliação de Impacte Ambiental num futuro furo de gás natural, em Aljubarrota. Nesse dia, a pronúncia chegou. Por não saber exatamente onde a empresa queria esburacar, a APA disse: “Não é possível concluir.”
Coisa estranha esta… Com o argumento de que na documentação entregue pela petrolífera não era especificado o local concreto do furo, a APA esquivava-se a uma posição. No entanto, com essa mesma informação, tinha aberto, meses antes, uma consulta pública – chamando pessoas, entidades públicas e organizações da sociedade civil a dar a sua opinião sobre a necessidade de haver ou não avaliação ambiental. Haveria alguma razão para a empresa não referir essa informação?
Era preciso investigar, ir para o terreno.
No Fumaça, eu tinha uma vantagem: conhecia a região. De alfacinha só tenho o viver. A terra a que chamo minha fica no distrito de Leiria, numa aldeia do concelho de Porto de Mós. Entre o local onde querem fazer o furo de gás (em Aljubarrota) e a cozinha onde a minha mãe me preparou belas refeições, durante a reportagem, distam dez quilómetros, em linha reta.
O sítio fica a 15 minutos, de carro, da rua onde eu aprendi a andar de bicicleta, quando era garoto. E o que percebi é que a “minha” casa, o quintal, toda a aldeia, as localidades vizinhas tinham sido “vendidas”. Também o chão do Santuário de Fátima, dos Mosteiros da Batalha e de Alcobaça, do Castelo de Leiria, mais de metade do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e toda a Reserva Natural do Paul de Arzila.
A quatro dias das eleições legislativas de outubro de 2015, o governo de Pedro Passos Coelho vendeu 2.510 km2 de direitos de exploração do subsolo nacional, divididos em dois blocos vizinhos: a concessão Batalha e a concessão Pombal. Estas áreas dividem-se por 18 concelhos e foram compradas pela Australis Oil & Gas Portugal, uma petrolífera australiana que detém, durante oito anos (prorrogáveis por mais dois), os direitos de prospeção, pesquisa, desenvolvimento e produção de petróleo e gás.
A série “Dá-lhe Gás” revela a história deste negócio e das vidas de quem já foi e de quem vai ser afetado pelos dois furos que a empresa quer fazer em Aljubarrota (Alcobaça) e, também, na Bajouca (Leiria). Contamos como foram comprados os terrenos, quem os vendeu, o que a Australis tem planeado, como têm reagido as populações, que só no ano passado perceberam que queriam furar nas suas terras, e como se mobilizam os ativistas.
Estivemos meses a investigar, entrevistámos dezenas de pessoas, fizemos centenas de quilómetros e passámos horas infindas a transcrever, escrever, editar, narrar e a compor a banda sonora original que vão ouvir. Demorámos o que foi preciso até sentirmos que naqueles minutos estão os factos e as emoções que queríamos que ouvissem.
À la Netflix, podem ouvir os quatro episódios da série logo a 22 de abril, quando for lançada. Para isso basta serem nossos apoiantes – fumaca.pt/contribuir.
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- Ep. 1 – O jardim da Celeste | 22 de abril;
- Ep. 2 – O mini-mercado do Soares | 30 de abril;
- Ep. 3 – A padeira da Bajouca | 7 de maio;
- Ep. 4 – O vício da Europa | 14 de maio.