“Sexo Amador” na 3.ª Clínica, uma exposição contra os tabus

por Inês Bom,    20 Agosto, 2018
“Sexo Amador” na 3.ª Clínica, uma exposição contra os tabus
Fotografia de Inês Bom / CCA
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No passado mês de Julho tivemos o prazer de estar presentes numa exposição que em tudo se tentou afastar do comum. Tema, espaço e conceito foram materializados de forma invulgar e descontraída, num ambiente de convívio, o que nos relembra que a capital não pára. Em cada canto há um encanto e precisamos estar atentos.

O presente artigo pretende apresentar não só o trabalho das protagonistas, como também o novo local que nos foi dado a conhecer e do qual poderemos esperar muitas revelações. O espaço, de seu nome 3.ª Clínica, é anfitrião de uma multiplicidade de eventos, organizados pela neta de um antigo fisiatra que ali exerceu. Interior típico de uma Lisboa antiga, a residência é palco não só de palestras e exibições, como também de confraternizações entre aqueles que comparecem. Prosear na cozinha, cavaquear em salas e corredores, compõem a atmosfera informal que envolve o trabalho real de muitos que ali expressam as suas artes e desígnios. Cada sala um conceito. Há um intuito em cada divisão, o que torna a experiência versátil e acessível a todos os gostos.

Fotografia de Inês Bom / CCA

Quatro artistas, Mariana Simão, Rita Afonso, Simone Roberto e Verónica Gonçalves juntaram-se no decorrer de uma tertúlia sobre a posição da Ilustração no nosso país e em conjunto criaram “Sexo Amador”, cujo conceito se prende com a concretização destes dois temas através do desenho, fotografia e instalação. A expressão procurou pôr em contraste o idílico com amador, desmistificando tabus e inserindo-os no contexto do dia-a-dia do homem comum.

Fotografia de Inês Bom / CCA

Quatro artistas, quatro abordagens ao tema e diferentes expressões artísticas. Mariana, que começou o seu percurso a trabalhar com linha a preto e branco tendo recentemente começado a experimentar texturas e recortes, nesta primeira edição do Sexo Amador (e porque esta também explora uma abordagem experimental) expôs os originais de uma série de colagens. Através destas, planeou desenvolver uma sequência de componente sexual assumidamente amadora, de forma muito figurativa e com sentido de humor. O trabalho de Rita centrou-se maioritariamente em fotografia e construção de objectos. Tanto as colagens como as fotografias surgiram como consequência da problematização que conduziu ao “sexo amador”, tendo as colagens sido realizadas com o intuito de serem reproduzidas em papel autocolante e posteriormente colocadas na rua. A exploração do conceito amador por parte de Simone prendeu-se com o óbvio: a definição do acto sexual aliada à ingenuidade do amador. Através de ilustrações digitais e caneta, tinha como intento banalizar o acto sexual em si, mas sem o vulgarizar ou reduzir, por meio de uma ilustração metafórica sobre a simplicidade da exploração humana. Por fim, Verónica, cujo trabalho se pode descrever maioritariamente por formas e padrões orgânicos que criam composições quase surreais, descreve o seu processo criativo como uma recolha constante, quase obcecada, de fragmentos, frases, letras de músicas e estímulos. Tendo sido nesse registo que nasceram as peças para a exposição. Abordando o tema de uma perspetiva muito pessoal, expôs momentos, memórias, discursos de outros e discursos internos. Criou sobre relações humanas no geral, histórias bonitas, histórias tristes, sobre sexo e sobre o que isso traz ou leva.

Fotografia de Inês Bom / CCA

Uma segunda edição deste projecto realizar-se-á no próximo mês de Setembro. As quatro intérpretes irão debruçar-se novamente sobre o tema, mas diversificar na abordagem artística e na forma como presentearão o público. O local ainda não foi designado, mas temos a certeza sólida de que seremos embalados – ou abalados – com a força gritante que emerge desta temática.

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