‘Sicario: Day of the Soldado’, neorrealismo italiano num filme de acção
Em Sicario: Day of the Soldado, já não contamos com a presença do aclamado realizador Denis Villeneuve, o histórico Roger Deakins na fotografia ou com a heroína perdida interpretada por Emily Blunt. Porém, Taylor Sheridan mantém-se na escrita, e a história não diverge muito em termos de inimigos, ou seja, os cartéis mexicanos numa história à qual o realismo do realizador Stefano Sollima, habituado aos trabalhos sobre a máfia italiana (destacando-se a reputada série Gomorra e o filme Suburra, sobretudo) dão um toque qualitativo apreciável. Tudo anda à volta de cortar o mal pela raiz na fronteira por onde passam todos os dias inúmeros imigrantes de forma ilegal pagando quantias substanciais aos cartéis. Em vez do governo norte-americano entrar em confronto directo com eles, decide criar uma luta interna no México e, assim, os cartéis matarem-se uns aos outros até só sobrar um número tal que não signifique qualquer desafio para os EUA.
Ao contrário do primeiro, onde o enredo assenta nas personagens, principalmente na principal que é tudo menos uma heroína clássica em que esta enfrenta um mundo que lhe é totalmente estranho e com o qual tem dificuldade de lidar até ao fim, o segundo diverge mais para o lado da pura acção e, nesse aspecto, é sólido. Porém, perde-se um pouco no enredo e nas reviravoltas.
Tudo começa com um homem que tenta passar a fronteira e, posteriormente, um grupo de bombistas que se suicidam num supermercado. Assim, o governo americano acaba por se fixar unicamente na fronteira, mesmo depois de concluir que os segundos terroristas tinham nacionalidade americana, ou seja, não tinham passado a fronteira. Porquê? Isto não significaria que o problema não residia somente na fronteira, mas também no seu próprio país? Por outras palavras, o problema não é mais complexo? Para além disso, não foi muito convincente o apego de Alejandro à filha de um chefe importante de um cartel. Passou-se rapidamente da ideia de colocá-la no meio de um território inimigo para protegê-la com todas as forças e tentar levá-la a solo americano. Talvez um pouco mais de tempo a limar estes pormenores teriam tornado o enredo sólido e muitas perguntas desapareciam. Por outras palavras, aprofundar ainda mais um pouco o seu passado e, assim, relacionar com a decisão de proteger uma rapariga que não tinha nada que ver com a vingança e a violência que tanto marcam os cidadãos daquele país.
No fim, para além de vermos uma caricatura de um miúdo criminoso cheio de tatuagens, cabelo certinho e brinco na orelha, o filme cai num dos maiores erros do mundo dos filmes comerciais: o anti-climax para um próximo filme. Para além de não conseguir criar esse sentimento, acaba por trair o público. Não é correcto criar de forma calculista uma história de forma a que seja possível dividir em dois filmes, e esta forma clássica de controlar as nossas emoções, deixando-as prolongar por mais um pouco, é um método de lucrar nesta indústria, infelizmente.
Assim, mesmo os papéis sendo perfeitos para Benicio Del Toro e Josh Brolin e haver muito sangue e balas bem gastas, acaba por facilitar muito noutros aspectos, não nos dando a conhecer muito mais desta saga, que nem precisava de ter passado do primeiro, mas já que assim aconteceu, era obrigatório. Agora farão um terceiro provavelmente com uma temática de vingança e isso mudará a ideia inicial da história. A melhor coisa é esperar para ver.